Concentrados
desde as 7 horas, cerca de 500 manifestantes caminharam do Largo do Machado à
Rua Pinheiro Machado, em frente ao Palácio Guanabara, no Rio, nesta
quinta-feira (11), em protesto contra a concessão do Maracanã por 35 anos, numa
concorrência de cartas marcadas. Os envelopes só foram abertos após o término
do ato que se estendeu até as 11h30.
Participaram do protesto contra a privatização do Maracanã – patrimônio público
nacional – ativistas do movimento de resistência “O Maraca é Nosso”, da campanha
O Petróleo Tem que Ser Nosso, sindicalistas, estudantes, punks, militantes do
movimento sem teto vinculados à FIST, índios e apoiadores da Aldeia Maracanã,
atletas contrários à destruição da pista de atletismo Célio de Barros, pais e
professores da escola municipal Friedenreich, representantes de partidos
políticos como o PSOL, PSTU e PCR, de centrais sindicais (CSP-Conlutas e
Intersindical), Sindipetro-RJ, Frente Nacional dos Petroleiros (FNP),
dentre outros setores da sociedade, contrários às privatizações e à elitização
do Rio.
Enquanto o ato público acontecia do lado de fora
do Palácio Guanabara, do lado de dentro encenavam um arremedo de audiência
pública. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) disse que na manhã
desta quinta-feira, seu partido entrou com junto ao Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, pedindo o julgamento do mérito da liminar cassada
durante a madrugada. Freixo afirma que um dos consórcios concorrentes
participou do estudo de viabilidade do projeto do Complexo do Maracanã e
também da elaboração do edital, o que é totalmente ilegal: “É função do parlamentar fiscalizar o executivo. Só estamos cumprindo com o
nosso dever. O Estado investiu R$1,7 bilhão nas obras do Complexo do Maracanã e
não vai recuperar sequer 10% disso” – denunciou Freixo. Ele também anunciou que
entrará na Justiça para anular a licitação, argumentando que a lei foi
descumprida, ao não permitir a entrada do público na sua instalação.
ARMAÇÃO ILIMITADA
Ontem,
durante o dia, a expectativa era de que não houvesse leilão. O Ministério
Público conseguiu uma liminar, suspendendo a licitação do Complexo Maracanã,
por evidente favorecimento a um dos concorrentes, que inclui o empresário Eike
Batista, através da empresa IMX Venues, Odebrecht Participações e
Investimentos, AEG Administração de Estádios do Brasil: as três reunidas no
Consórcio Maracanã S.A. Eike Batista teria informações privilegiadas. Mas a
liminar foi derrubada durante a madrugada.
Já
na quinta-feira, data marcada para a licitação denunciada como de “cartas
marcadas”, o governador esperou que os protestos em frente ao Palácio Guanabara
terminassem para autorizar a abertura dos envelopes. O segundo e último
envelope aberto foi do consórcio "Complexo Esportivo e Cultural do Rio de
Janeiro", com as empresas OAS SA, Amsterdam NV (de origem holandesa) e
Lagardère Unlimited (da França). A empresa da Holanda é responsável pala
Amsterdam Arena, do Ajax, enquanto a francesa atua na área de marketing esportivo
internacional.
A data em que o vencedor será anunciado ainda não foi marcada, mas no bolo das
apostas o consórcio do Eike Batista sai na frente. O segundo concorrente não
teria apresentado todos os documentos necessários. A Comissão Especial de
Licitação instituída para cuidar do processo é formada por Luiz Roberto
Silveira Leite (presidente) e Angela Leite (primeira-secretária), ambos da Casa
Civil, e Sandra Vigné Lo Fiego, representante da unidade de PPP (parceria
público-privada) da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag).
O carro de som do Sindipetro-RJ permaneceu em frente ao Palácio Guanabara
durante todo o ato, coordenado pelos diretores Emanuel Cancella e Eduardo
Henrique. No encerramento, foi seguido por uma viatura da PM. Na esquina das
ruas Marques de Olinda com Muniz Barreto, em Botafogo, o carro foi detido com
os dois diretores, além da jornalista Fátima Lacerda, do assessor Ronaldo
Moreno e do motorista Rui. Permaneceu cerca de uma hora a espera do
reboque, mas acabou liberado.