sexta-feira, 1 de novembro de 2013

BAIANO NÃO DEMOSTRA MEDO, ESSE É SEU EXEMPLO NAS RUAS.

Baiano (Jair) foi o primeiro manifestante com o qual me deparei quando tive a oportunidade de ir a uma manifestação, já no início de agosto, na avenida Pres. Antonio Carlos, centro do Rio. Ele segurava um megafone próprio, e esbravejava contra o cordão policial, sem nenhuma cerimônia. Nos meses precedentes, acompanhei tudo o que acontecia via mídias Ninjas, todos os vídeos e notícias. Mesmo assim, mal conseguiria descrever o que senti vendo-o gritar ao meu lado para policiais o quanto eram racistas, a urgência daquela corporação genocida ser extinta de uma vez por todas, em pleno centro da cidade. Seu colega de militância tentava lhe afastar dos policiais, eu tentava afastar seu colega para que o deixasse falar. Então ele me explicou que fazia aquilo por preocupação, porque Baiano já havia sido levado e fichado pela PM outras duas vezes.

Baiano é negro, portanto plenamente compatível com o nosso navio negreiro do século XXI. Para o azar da polícia, do Beltrame e de toda a corja burguesa que toma tranquila seu café da manhã todos os dias para depois dar ordens de matar se preciso for – porque o que importa é justamente salvaguardar a tranquilidade do café da manhã – Baiano não demonstra medo, nenhum. É esse seu exemplo nas ruas: gritar para tentar salvar as próximas vidas, sobretudo as que têm peles iguais à sua, mesmo que por causa disso a sua própria passe a estar na mira. Não é à toa que é justamente ele quem permanece preso. Ele virou, ao longo desses meses, entre outros, um dos mais visados pela PM, tentando espreitar, humilhar e reprimir quem identificava como “líderes”.

 Porcos fardados são pagos para calar catarses, e para calar principalmente a coragem e o brio dos que se dispõem a dar o exemplo aos seus, de que não é no silêncio consolidado nos nossos séculos de colonização e apartheid, morrendo calado, que a situação por um passe de mágica, vai se reverter, de que é possível enfrentar este poder aparentemente eterno, fragilmente consolidado, profundamente genocida, obviamente irresistível a um levante organizado popular. Enquanto Baiano continuar preso, temos todos muito a perder.  E o Estado, a classe dominante e o status quo, muito a ganhar.

Liberdade para Baiano já!

Depoimento de Aline Magalhães em 29/10/13, via Facebook.