Baiano (Jair)
foi o primeiro manifestante com o qual me deparei quando tive a oportunidade de
ir a uma manifestação, já no início de agosto, na avenida Pres. Antonio Carlos,
centro do Rio. Ele segurava um megafone próprio, e esbravejava contra o cordão
policial, sem nenhuma cerimônia. Nos meses precedentes, acompanhei tudo o que
acontecia via mídias Ninjas, todos os vídeos e notícias. Mesmo assim, mal
conseguiria descrever o que senti vendo-o gritar ao meu lado para policiais o
quanto eram racistas, a urgência daquela corporação genocida ser extinta de uma
vez por todas, em pleno centro da cidade. Seu colega de militância tentava lhe
afastar dos policiais, eu tentava afastar seu colega para que o deixasse falar.
Então ele me explicou que fazia aquilo por preocupação, porque Baiano já havia
sido levado e fichado pela PM outras duas vezes.
Baiano é
negro, portanto plenamente compatível com o nosso navio negreiro do século XXI.
Para o azar da polícia, do Beltrame e de toda a corja burguesa que toma
tranquila seu café da manhã todos os dias para depois dar ordens de matar se
preciso for – porque o que importa é justamente salvaguardar a tranquilidade do
café da manhã – Baiano não demonstra medo, nenhum. É esse seu exemplo nas ruas:
gritar para tentar salvar as próximas vidas, sobretudo as que têm peles iguais
à sua, mesmo que por causa disso a sua própria passe a estar na mira. Não é à
toa que é justamente ele quem permanece preso. Ele virou, ao longo desses
meses, entre outros, um dos mais visados pela PM, tentando espreitar, humilhar
e reprimir quem identificava como “líderes”.
Porcos fardados são pagos para calar catarses,
e para calar principalmente a coragem e o brio dos que se dispõem a dar o
exemplo aos seus, de que não é no silêncio consolidado nos nossos séculos de
colonização e apartheid, morrendo calado, que a situação por um passe de
mágica, vai se reverter, de que é possível enfrentar este poder aparentemente
eterno, fragilmente consolidado, profundamente genocida, obviamente
irresistível a um levante organizado popular. Enquanto Baiano continuar preso,
temos todos muito a perder. E o Estado,
a classe dominante e o status quo, muito a ganhar.
Liberdade para
Baiano já!
Depoimento de Aline Magalhães em 29/10/13, via Facebook.
Depoimento de Aline Magalhães em 29/10/13, via Facebook.