quinta-feira, 11 de setembro de 2025

AMERICA FOOTBALL CLUB – DE PACIFICADOR PARA VINGADOR A CLUBE DOS POBRES

                                                                                                                                      André de Paula

 

Em dezoito de setembro de 1904, surgia o clube que nasceu para combater os poderosos do seu tempo. O America sempre foi um time da resistência, surgido na Gamboa (bairro pobre, preto e proletário do Rio de Janeiro). Por isso, sua primeira camisa foi da cor preta, provavelmente em homenagem ao anarquismo, ideologia de grande parte do proletariado nascente.

Por influência de meu falecido pai, comecei a torcer pelo Flamengo. Contudo, no primeiro jogo em que fui ao Maracanã, ao me deparar com o clube da camisa vermelha que jogava na preliminar, imediatamente me bandeei para ele. E olha que foi em 1965, quando ficamos quase um ano sem vencer ninguém.

Já fui torcedor fanático, porém me conscientizei de que futebol é diversão, não pode ser “ópio do povo” nem estar acima da luta por uma sociedade igualitária.

Éramos conhecidos, de maneira preconceituosa, como os “urubus de sarjeta” devido à nossa origem humilde. Sempre tivemos que lutar contra os times dos ricos. Fomos, depois, do Bangu, o primeiro time a admitir pessoas negras em suas fileiras – segundo o livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, de Mário Filho.

Teve o maestro Villa-Lobos entre os seus fundadores, nunca ganhou nenhum campeonato roubado, tendo atraído por tal motivo a preferência dos intelectuais.

Em 1948, realizou oito partidas vitoriosas nos Andes, conquistando a primeira “Fita Azul” do futebol brasileiro. Em 1959, quando ainda não havia o Mundial de Clubes, realizou treze jogos na Europa e quatro na América, sem perder. Em 1961 ficou mais sete jogos sem perder, pois em 1960 não excursionou, totalizando 24 partidas seguidas sem derrota, chegando à Segunda Fita Azul. De 1963 a 1964, foram onze partidas, chegando à Terceira Fita Azul. De 28 de janeiro de 1965 até 16 de janeiro de 1972, ficou 28 partidas internacionais sem derrota.

O America foi o primeiro clube brasileiro a jogar no exterior, sendo base da Seleção Brasileira de 1956, tendo empatado com a Seleção Brasileira em 1982 e vencido a seleção carioca em 1987. Soma 44 (quarenta e quatro) vitórias, dezessete derrotas e dezessete empates contra seleções, tendo 164 (cento e sessenta e quatro) vitórias internacionais contra 64(sessenta e quatro) empates e 60 (sessenta) derrotas. Ao todo, foram duas mil e cinquenta e nove vitórias; mil, quatrocentas e oitenta e três derrotas e mil, cento e vinte e cinco empates.

Foram cedidos para a seleção brasileira, até hoje, 58 (cinquenta e oito) jogadores americanos, além Romário, atual presidente, que também jogou no America.

Em 1949, venceu a Seleção do Chile por duas vezes, assim como já venceu as seleções da Grécia, Israel, Gana, Nigéria, Japão, Uruguai e Arábia Saudita, dentre outros. Vencedor de torneios internacionais, como o de Nova York (em 1962); Imprensa Peruana, em 1955, quando venceu o Santos na final; Quadrangular Sultana Del Valle, em Cali, e Quadrangular de Medellín, na Colômbia,  ambos em 1961; a Taça TAP, em Angola, em 1973, contra o Benfica de Eusébio; o Torneio Negrão de Lima, no Brasil, em 1967 e o Torneio Costa Dourada, em Terragona, Espanha, em 1983.Campeão do Torneio Internacional do Haiti em 1998.

Vencedor de torneios nacionais como o Torneio Costa e Silva, em 1968, em Vitória do Espírito Santo, e Torneio Luiz Viana Filho, em Salvador da Bahia, também em 1968. É o vingador do futebol brasileiro, pois, em feriado comemorativo em Montevidéu, em 1951, derrotou o Penarol por 3 a1, que representava a seleção uruguaia, que contou com oito jogadores que estiveram na conquista do campeonato mundial, em 1950, no Maracanã.  Campeão dos Campeões em 1982, título nacional, e vencedor da Taça dos Campeões Interestaduais Rio-São Paulo (em 1916 e 1936). Primeiro Campeão da Guanabara (1960), conquistou a Zona Sul da Taça Brasil (1961), Taça Ioduran, em 1917, Taça Campeão do Rio-São Paulo, em 1935, Troféu Ari Barroso, em 1965, foi Campeão do Centenário em 1922, além de conquistar outros sete títulos cariocas, perfazendo um total de nove títulos, pois também venceu dois campeonatos cariocas extras, em 1938 e em 1952. Ganhou do Botafogo de 11 X 2 em 1929, em repetição de jogo anterior contestado pelos botafoguenses e os aspirantes do América já venceram os titulares do Vasco por 5 X 1.A relação completa de títulos estaduais é: sete campeonatos estaduais, dois torneios extras (1938 e 1952); Torneio Relâmpago de 1945; Torneio Início de 1949, Taça Guanabara de 1974; Taça Rio de 1982; Campeão do Terceiro Turno do Campeonato Carioca de 1955; Taça Jaime de Carvalho de 1976; Troféu João Ellis Filho, de 2010; Campeão Estadual da Segunda Divisão de 2009, 2015 e 2018; Taça Corcovado de 2017; Taça Santos Dumont de 2019; Torneio Extra da Capital de 2013.

O mais prejudicado pelas arbitragens e conchavos, excluído do Campeonato Nacional sem ter sido rebaixado, quando ficou em terceiro lugar num autêntico jogo de tapetão em 1983. Aliás, era para ter sido campeão nacional, tendo sido roubado em jogo no Maracanã no empate contra o São Paulo que fez um gol irregular. Foi “garfado” em vários Campeonatos e Taças. Sempre foi prejudicado pelo voto plural quando a vontade da  maioria dos clubes cariocas não significava a maioria dos votos. Depois, na briga de Giulite Coutinho, presidente do América, com o  "Caixa d’Água", presidente da Federação, éramos roubados para não ofuscar o Americano, time de coração do presidente Eduardo Viana, vulgo "Caixa d'Água". Agora, na Federação continua a roubalheira para que o América não suba à primeira divisão e não ofusque Bangu e Madureira, times do presidente Rubinho e do vice-presidente Duba, respectivamente. Além do mais, a filha do presidente Rubinho tem ação trabalhista contra o America. Em 1916 não foi campeão invicto, pois um torcedor do Andaraí, ausente o juiz, foi escalado como árbitro, deixou de dar  pênaltis a favor do America e anulou gols, saindo o Andaraí vitorioso por 1 X 0.

É o clube mais simpático, em virtude de vários acontecimentos históricos: pôs fim à desavença entre Flamengo e Botafogo; unificou com o Vasco o Campeonato Carioca, ganhando a Taça Clássico da Paz, disputada com o clube cruzmaltino que ainda não nos devolveu a taça conquistada e emprestada ao clube cruzmaltino. Em 1913, Belford Duarte, capitão do America, foi ao juiz para reconhecer que  tinha cometido um pênalti, fato que não tinha sido observado pelo juiz, fazendo com que o árbitro assinalasse a falta máxima contra o America. Belford Duarte jamais foi expulso de campo. Por isso, em sua homenagem, o estádio do Coritiba Futebol Club até pouco tempo levou o seu nome e, também em sua homenagem, é conferido ao jogador que nunca tenha sido expulso de campo o prêmio Belford Duarte.

Até o ano de 1940, era a maior torcida do Brasil.  Em 1957 figurou à frente de todos os times em popularidade, em concurso promovido pelo Relógio da marca Longines. Obteve 92.802(noventa e dois mil, oitocentos e dois) votos contra 52.214(cinquenta e dois mil, duzentos e catorze) votos do Flamengo.

O Flamengo ficou sete anos sem nos vencer e vencemos dois campeonatos em cima do Fluminense e um em cima do Botafogo.

É o clube com mais homônimos no Brasil, existindo mais de 190(cento e noventa) Americas, sendo que o Americano de Campos e o rubro-negro Clube Atlético Paranaense também nasceram do America (o Atlético é a união do Internacional preto com o America vermelho).

Osvaldo Melo foi o maior jogador brasileiro de sua época, na década de 20, sendo que o artilheiro do campeonato Taça de Prata, de 1969, na verdade, o campeonato nacional daquela época, Edu, só não foi convocado para a seleção brasileira em virtude de ser irmão de Nando, também jogador, e primo de Cecília Coimbra, do grupo Tortura Nunca Mais, ambos presos e torturados pela ditadura militar. Edú foi, inclusive, apontado como melhor jogador da América Latina, ficando na artilharia à frente de Pelé. Em pleno 1964, excursionou à República Socialista da Tchecoslováquia, empatando com essa seleção.

Teve em seus quadros um erudito jogador, negro, “Maneco”, que jamais aceitou treinar ou jogar em outro clube, uma vez que era torcedor vermelho, mesmo tendo recebido propostas mais vantajosas de outros clubes. Esse jogador sofreu a vida toda o mais vil racismo, com jornais da época estampando figuras de macaco, sendo que, no tricampeonato da seleção carioca contra a seleção paulista, a Federação em sua “homenagem” ofereceu no jantar sorvete de creme de sobremesa, dizendo que Maneco era um “negro de alma branca”. Teve trágico fim, também motivado pelo preconceito, uma vez que, ao atrasar a prestação do apartamento que comprou para os seus pais, mesmo tendo o America demonstrado a vontade de sanar a dívida, o proprietário não voltou atrás e mandou executar a desocupação do imóvel. Em virtude disso, suicidou-se. Com a repercussão do caso, o proprietário racista aceitou a proposta dos conselheiros do América de pagamento da dívida– capitaneados por Sobral Pinto -  e desistiu de desabrigar os pais de Maneco que receberam a chave definitiva.

É significativa a postura da torcida americana pelas liberdades democráticas, tendo durante a Ditadura Militar criado a "Brigada Rubra" que denunciava o arbítrio e, recentemente, foi criada a torcida "Anarcomunamerica" que denunciava as danosas reformas da previdência e trabalhista, além de ter exibido faixas nos jogos, mesmo antes da Lei que confere a livre manifestação nos estádios. Agora, a torcida "Anarcomunamerica" encontra-se proibida de frequentar os jogos pela direção do clube que, por meio de seus seguranças, mandou agredir um de nossos torcedores, Heitor Burgos, não sem antes ter mandado arrancar a bandeira da Palestina, a faixa na qual escrito “ Ditadura Nunca Mais” e a bandeira da República Popular da China. Por meio de milícias, a direção do América mandou que fôssemos agredidos – o que realmente aconteceu.

O America foi o criador do futsal e o primeiro a disputar basquete e vôlei.

Ademais, possui o hino e a camisa reconhecidamente mais bonitos! Atualmente, o clube tem um presidente negro, Romário, tetracampeão do mundo, que está fazendo com que nosso clube ascenda.

Nenhum outro resistiria a tantas adversidades como as que o America enfrentou e tem enfrentado. Assim como muitos, teriam acabado se passassem pelas dificuldades enfrentadas por nosso clube. Por essas e outras que, efetivamente, a história do America deve ser vista não só pelo lado das vitórias, uma vez que competir também é importante. Nascido dos pobres tornou-se tão superior que nem precisa ganhar. É uno e múltiplo.

 

André de Paula é membro da Anistia Internacional,  advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto –Fist,  membro da Torcida Anarcomunamerica e  membro da Comissão Dominicana de Justiça e Paz.

 

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