André de Paula
Em dezoito de setembro de
1904, surgia o clube que nasceu para combater os poderosos do seu tempo. O
America sempre foi um time da resistência, surgido na Gamboa (bairro pobre, preto
e proletário do Rio de Janeiro). Por isso, sua primeira camisa foi da cor
preta, provavelmente em homenagem ao anarquismo, ideologia de grande parte do
proletariado nascente.
Por influência de meu
falecido pai, comecei a torcer pelo Flamengo. Contudo, no primeiro jogo em
que fui ao Maracanã, ao me deparar com o clube da camisa vermelha que jogava na
preliminar, imediatamente me bandeei para ele. E olha que foi em 1965, quando
ficamos quase um ano sem vencer ninguém.
Já fui torcedor fanático,
porém me conscientizei de que futebol é diversão, não pode ser “ópio do povo”
nem estar acima da luta por uma sociedade igualitária.
Éramos conhecidos, de
maneira preconceituosa, como os “urubus de sarjeta” devido à nossa origem
humilde. Sempre tivemos que lutar contra os times dos ricos. Fomos, depois, do
Bangu, o primeiro time a admitir pessoas negras em suas fileiras – segundo o
livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, de Mário Filho.
Teve o maestro Villa-Lobos
entre os seus fundadores, nunca ganhou nenhum campeonato roubado, tendo atraído
por tal motivo a preferência dos intelectuais.
Em 1948, realizou oito
partidas vitoriosas nos Andes, conquistando a primeira “Fita Azul” do futebol
brasileiro. Em 1959, quando ainda não havia o Mundial de Clubes, realizou treze
jogos na Europa e quatro na América, sem perder. Em 1961 ficou mais sete jogos
sem perder, pois em 1960 não excursionou, totalizando 24 partidas seguidas sem
derrota, chegando à Segunda Fita Azul. De 1963 a 1964, foram onze partidas,
chegando à Terceira Fita Azul. De 28 de janeiro de 1965 até 16 de janeiro de
1972, ficou 28 partidas internacionais sem derrota.
O America foi o primeiro
clube brasileiro a jogar no exterior, sendo base da Seleção Brasileira de 1956,
tendo empatado com a Seleção Brasileira em 1982 e vencido a seleção carioca em
1987. Soma 44 (quarenta e quatro) vitórias, dezessete derrotas e dezessete
empates contra seleções, tendo 164 (cento e sessenta e quatro) vitórias
internacionais contra 64(sessenta e quatro) empates e 60 (sessenta) derrotas. Ao
todo, foram duas mil e cinquenta e nove vitórias; mil, quatrocentas e oitenta e
três derrotas e mil, cento e vinte e cinco empates.
Foram cedidos para a seleção
brasileira, até hoje, 58 (cinquenta e oito) jogadores americanos, além Romário,
atual presidente, que também jogou no America.
Em 1949, venceu a Seleção do
Chile por duas vezes, assim como já venceu as seleções da Grécia, Israel, Gana,
Nigéria, Japão, Uruguai e Arábia Saudita, dentre outros. Vencedor de torneios
internacionais, como o de Nova York (em 1962); Imprensa Peruana, em 1955,
quando venceu o Santos na final; Quadrangular Sultana Del Valle, em Cali, e
Quadrangular de Medellín, na Colômbia, ambos em 1961; a Taça TAP, em Angola, em 1973,
contra o Benfica de Eusébio; o Torneio Negrão de Lima, no Brasil, em 1967 e o
Torneio Costa Dourada, em Terragona, Espanha, em 1983.Campeão do Torneio
Internacional do Haiti em 1998.
Vencedor de torneios
nacionais como o Torneio Costa e Silva, em 1968, em Vitória do Espírito Santo,
e Torneio Luiz Viana Filho, em Salvador da Bahia, também em 1968. É o vingador
do futebol brasileiro, pois, em feriado comemorativo em Montevidéu, em 1951,
derrotou o Penarol por 3 a1, que representava a seleção uruguaia, que contou
com oito jogadores que estiveram na conquista do campeonato mundial, em 1950,
no Maracanã. Campeão dos Campeões em 1982, título nacional, e vencedor da
Taça dos Campeões Interestaduais Rio-São Paulo (em 1916 e 1936). Primeiro
Campeão da Guanabara (1960), conquistou a Zona Sul da Taça Brasil (1961), Taça
Ioduran, em 1917, Taça Campeão do Rio-São Paulo, em 1935, Troféu Ari Barroso,
em 1965, foi Campeão do Centenário em 1922, além de conquistar outros sete
títulos cariocas, perfazendo um total de nove títulos, pois também venceu dois
campeonatos cariocas extras, em 1938 e em 1952. Ganhou do Botafogo de 11 X 2 em
1929, em repetição de jogo anterior contestado pelos botafoguenses e os
aspirantes do América já venceram os titulares do Vasco por 5 X 1.A relação
completa de títulos estaduais é: sete campeonatos estaduais, dois torneios
extras (1938 e 1952); Torneio Relâmpago de 1945; Torneio Início de 1949, Taça
Guanabara de 1974; Taça Rio de 1982; Campeão do Terceiro Turno do Campeonato
Carioca de 1955; Taça Jaime de Carvalho de 1976; Troféu João Ellis Filho, de
2010; Campeão Estadual da Segunda Divisão de 2009, 2015 e 2018; Taça Corcovado
de 2017; Taça Santos Dumont de 2019; Torneio Extra da Capital de 2013.
O mais prejudicado pelas
arbitragens e conchavos, excluído do Campeonato Nacional sem ter sido
rebaixado, quando ficou em terceiro lugar num autêntico jogo de tapetão em 1983.
Aliás, era para ter sido campeão nacional, tendo sido roubado em jogo no
Maracanã no empate contra o São Paulo que fez um gol irregular. Foi “garfado”
em vários Campeonatos e Taças. Sempre foi prejudicado pelo voto plural quando a
vontade da maioria dos clubes cariocas não significava a maioria dos
votos. Depois, na briga de Giulite Coutinho, presidente do América, com o
"Caixa d’Água", presidente da Federação, éramos roubados para não
ofuscar o Americano, time de coração do presidente Eduardo Viana, vulgo
"Caixa d'Água". Agora, na Federação continua a roubalheira para que o
América não suba à primeira divisão e não ofusque Bangu e Madureira, times do
presidente Rubinho e do vice-presidente Duba, respectivamente. Além do mais, a
filha do presidente Rubinho tem ação trabalhista contra o America. Em 1916 não
foi campeão invicto, pois um torcedor do Andaraí, ausente o juiz, foi escalado
como árbitro, deixou de dar pênaltis a favor do America e anulou gols,
saindo o Andaraí vitorioso por 1 X 0.
É o clube mais simpático, em
virtude de vários acontecimentos históricos: pôs fim à desavença entre Flamengo
e Botafogo; unificou com o Vasco o Campeonato Carioca, ganhando a Taça Clássico
da Paz, disputada com o clube cruzmaltino que ainda não nos devolveu a taça
conquistada e emprestada ao clube cruzmaltino. Em 1913, Belford Duarte, capitão
do America, foi ao juiz para reconhecer que tinha cometido um pênalti,
fato que não tinha sido observado pelo juiz, fazendo com que o árbitro
assinalasse a falta máxima contra o America. Belford Duarte jamais foi expulso
de campo. Por isso, em sua homenagem, o estádio do Coritiba Futebol Club até
pouco tempo levou o seu nome e, também em sua homenagem, é conferido ao jogador
que nunca tenha sido expulso de campo o prêmio Belford Duarte.
Até o ano de 1940, era a
maior torcida do Brasil. Em 1957 figurou à frente de todos os times em
popularidade, em concurso promovido pelo Relógio da marca Longines. Obteve
92.802(noventa e dois mil, oitocentos e dois) votos contra 52.214(cinquenta e
dois mil, duzentos e catorze) votos do Flamengo.
O Flamengo ficou sete anos
sem nos vencer e vencemos dois campeonatos em cima do Fluminense e um em cima
do Botafogo.
É o clube com mais homônimos
no Brasil, existindo mais de 190(cento e noventa) Americas, sendo que o
Americano de Campos e o rubro-negro Clube Atlético Paranaense também nasceram
do America (o Atlético é a união do Internacional preto com o America
vermelho).
Osvaldo Melo foi o maior
jogador brasileiro de sua época, na década de 20, sendo que o artilheiro do
campeonato Taça de Prata, de 1969, na verdade, o campeonato nacional daquela
época, Edu, só não foi convocado para a seleção brasileira em virtude de ser
irmão de Nando, também jogador, e primo de Cecília Coimbra, do grupo Tortura
Nunca Mais, ambos presos e torturados pela ditadura militar. Edú foi,
inclusive, apontado como melhor jogador da América Latina, ficando na
artilharia à frente de Pelé. Em pleno 1964, excursionou à República Socialista
da Tchecoslováquia, empatando com essa seleção.
Teve em seus quadros um
erudito jogador, negro, “Maneco”, que jamais aceitou treinar ou jogar em outro
clube, uma vez que era torcedor vermelho, mesmo tendo recebido propostas mais
vantajosas de outros clubes. Esse jogador sofreu a vida toda o mais vil
racismo, com jornais da época estampando figuras de macaco, sendo que, no
tricampeonato da seleção carioca contra a seleção paulista, a Federação em sua
“homenagem” ofereceu no jantar sorvete de creme de sobremesa, dizendo que
Maneco era um “negro de alma branca”. Teve trágico fim, também motivado pelo
preconceito, uma vez que, ao atrasar a prestação do apartamento que comprou
para os seus pais, mesmo tendo o America demonstrado a vontade de sanar a
dívida, o proprietário não voltou atrás e mandou executar a desocupação do imóvel.
Em virtude disso, suicidou-se. Com a repercussão do caso, o proprietário
racista aceitou a proposta dos conselheiros do América de pagamento da dívida–
capitaneados por Sobral Pinto - e desistiu de desabrigar os pais de
Maneco que receberam a chave definitiva.
É significativa a postura da
torcida americana pelas liberdades democráticas, tendo durante a Ditadura
Militar criado a "Brigada Rubra" que denunciava o arbítrio e,
recentemente, foi criada a torcida "Anarcomunamerica" que denunciava as
danosas reformas da previdência e trabalhista, além de ter exibido faixas nos
jogos, mesmo antes da Lei que confere a livre manifestação nos estádios. Agora,
a torcida "Anarcomunamerica" encontra-se proibida de frequentar os
jogos pela direção do clube que, por meio de seus seguranças, mandou agredir um
de nossos torcedores, Heitor Burgos, não sem antes ter mandado arrancar a
bandeira da Palestina, a faixa na qual escrito “ Ditadura Nunca Mais” e a
bandeira da República Popular da China. Por meio de milícias, a direção do América
mandou que fôssemos agredidos – o que realmente aconteceu.
O America foi o criador do
futsal e o primeiro a disputar basquete e vôlei.
Ademais, possui o hino e a
camisa reconhecidamente mais bonitos! Atualmente, o clube tem um presidente negro,
Romário, tetracampeão do mundo, que está fazendo com que nosso clube ascenda.
Nenhum outro resistiria a
tantas adversidades como as que o America enfrentou e tem enfrentado. Assim
como muitos, teriam acabado se passassem pelas dificuldades enfrentadas por
nosso clube. Por essas e outras que, efetivamente, a história do America deve
ser vista não só pelo lado das vitórias, uma vez que competir também é
importante. Nascido dos pobres tornou-se tão superior que nem precisa ganhar. É
uno e múltiplo.
André de Paula é membro da
Anistia Internacional, advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto
–Fist, membro da Torcida Anarcomunamerica e membro da Comissão Dominicana de Justiça e Paz.
https://www.facebook.com/frenteinternacionalista.fist
http://fistrj.blogspot.com.br
fist17@gmail.com
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