quinta-feira, 11 de setembro de 2025

AMERICA FOOTBALL CLUB – DE PACIFICADOR PARA VINGADOR A CLUBE DOS POBRES

                                                                                                                                      André de Paula

 

Em dezoito de setembro de 1904, surgia o clube que nasceu para combater os poderosos do seu tempo. O America sempre foi um time da resistência, surgido na Gamboa (bairro pobre, preto e proletário do Rio de Janeiro). Por isso, sua primeira camisa foi da cor preta, provavelmente em homenagem ao anarquismo, ideologia de grande parte do proletariado nascente.

Por influência de meu falecido pai, comecei a torcer pelo Flamengo. Contudo, no primeiro jogo em que fui ao Maracanã, ao me deparar com o clube da camisa vermelha que jogava na preliminar, imediatamente me bandeei para ele. E olha que foi em 1965, quando ficamos quase um ano sem vencer ninguém.

Já fui torcedor fanático, porém me conscientizei de que futebol é diversão, não pode ser “ópio do povo” nem estar acima da luta por uma sociedade igualitária.

Éramos conhecidos, de maneira preconceituosa, como os “urubus de sarjeta” devido à nossa origem humilde. Sempre tivemos que lutar contra os times dos ricos. Fomos, depois, do Bangu, o primeiro time a admitir pessoas negras em suas fileiras – segundo o livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, de Mário Filho.

Teve o maestro Villa-Lobos entre os seus fundadores, nunca ganhou nenhum campeonato roubado, tendo atraído por tal motivo a preferência dos intelectuais.

Em 1948, realizou oito partidas vitoriosas nos Andes, conquistando a primeira “Fita Azul” do futebol brasileiro. Em 1959, quando ainda não havia o Mundial de Clubes, realizou treze jogos na Europa e quatro na América, sem perder. Em 1961 ficou mais sete jogos sem perder, pois em 1960 não excursionou, totalizando 24 partidas seguidas sem derrota, chegando à Segunda Fita Azul. De 1963 a 1964, foram onze partidas, chegando à Terceira Fita Azul. De 28 de janeiro de 1965 até 16 de janeiro de 1972, ficou 28 partidas internacionais sem derrota.

O America foi o primeiro clube brasileiro a jogar no exterior, sendo base da Seleção Brasileira de 1956, tendo empatado com a Seleção Brasileira em 1982 e vencido a seleção carioca em 1987. Soma 44 (quarenta e quatro) vitórias, dezessete derrotas e dezessete empates contra seleções, tendo 164 (cento e sessenta e quatro) vitórias internacionais contra 64(sessenta e quatro) empates e 60 (sessenta) derrotas. Ao todo, foram duas mil e cinquenta e nove vitórias; mil, quatrocentas e oitenta e três derrotas e mil, cento e vinte e cinco empates.

Foram cedidos para a seleção brasileira, até hoje, 58 (cinquenta e oito) jogadores americanos, além Romário, atual presidente, que também jogou no America.

Em 1949, venceu a Seleção do Chile por duas vezes, assim como já venceu as seleções da Grécia, Israel, Gana, Nigéria, Japão, Uruguai e Arábia Saudita, dentre outros. Vencedor de torneios internacionais, como o de Nova York (em 1962); Imprensa Peruana, em 1955, quando venceu o Santos na final; Quadrangular Sultana Del Valle, em Cali, e Quadrangular de Medellín, na Colômbia,  ambos em 1961; a Taça TAP, em Angola, em 1973, contra o Benfica de Eusébio; o Torneio Negrão de Lima, no Brasil, em 1967 e o Torneio Costa Dourada, em Terragona, Espanha, em 1983.Campeão do Torneio Internacional do Haiti em 1998.

Vencedor de torneios nacionais como o Torneio Costa e Silva, em 1968, em Vitória do Espírito Santo, e Torneio Luiz Viana Filho, em Salvador da Bahia, também em 1968. É o vingador do futebol brasileiro, pois, em feriado comemorativo em Montevidéu, em 1951, derrotou o Penarol por 3 a1, que representava a seleção uruguaia, que contou com oito jogadores que estiveram na conquista do campeonato mundial, em 1950, no Maracanã.  Campeão dos Campeões em 1982, título nacional, e vencedor da Taça dos Campeões Interestaduais Rio-São Paulo (em 1916 e 1936). Primeiro Campeão da Guanabara (1960), conquistou a Zona Sul da Taça Brasil (1961), Taça Ioduran, em 1917, Taça Campeão do Rio-São Paulo, em 1935, Troféu Ari Barroso, em 1965, foi Campeão do Centenário em 1922, além de conquistar outros sete títulos cariocas, perfazendo um total de nove títulos, pois também venceu dois campeonatos cariocas extras, em 1938 e em 1952. Ganhou do Botafogo de 11 X 2 em 1929, em repetição de jogo anterior contestado pelos botafoguenses e os aspirantes do América já venceram os titulares do Vasco por 5 X 1.A relação completa de títulos estaduais é: sete campeonatos estaduais, dois torneios extras (1938 e 1952); Torneio Relâmpago de 1945; Torneio Início de 1949, Taça Guanabara de 1974; Taça Rio de 1982; Campeão do Terceiro Turno do Campeonato Carioca de 1955; Taça Jaime de Carvalho de 1976; Troféu João Ellis Filho, de 2010; Campeão Estadual da Segunda Divisão de 2009, 2015 e 2018; Taça Corcovado de 2017; Taça Santos Dumont de 2019; Torneio Extra da Capital de 2013.

O mais prejudicado pelas arbitragens e conchavos, excluído do Campeonato Nacional sem ter sido rebaixado, quando ficou em terceiro lugar num autêntico jogo de tapetão em 1983. Aliás, era para ter sido campeão nacional, tendo sido roubado em jogo no Maracanã no empate contra o São Paulo que fez um gol irregular. Foi “garfado” em vários Campeonatos e Taças. Sempre foi prejudicado pelo voto plural quando a vontade da  maioria dos clubes cariocas não significava a maioria dos votos. Depois, na briga de Giulite Coutinho, presidente do América, com o  "Caixa d’Água", presidente da Federação, éramos roubados para não ofuscar o Americano, time de coração do presidente Eduardo Viana, vulgo "Caixa d'Água". Agora, na Federação continua a roubalheira para que o América não suba à primeira divisão e não ofusque Bangu e Madureira, times do presidente Rubinho e do vice-presidente Duba, respectivamente. Além do mais, a filha do presidente Rubinho tem ação trabalhista contra o America. Em 1916 não foi campeão invicto, pois um torcedor do Andaraí, ausente o juiz, foi escalado como árbitro, deixou de dar  pênaltis a favor do America e anulou gols, saindo o Andaraí vitorioso por 1 X 0.

É o clube mais simpático, em virtude de vários acontecimentos históricos: pôs fim à desavença entre Flamengo e Botafogo; unificou com o Vasco o Campeonato Carioca, ganhando a Taça Clássico da Paz, disputada com o clube cruzmaltino que ainda não nos devolveu a taça conquistada e emprestada ao clube cruzmaltino. Em 1913, Belford Duarte, capitão do America, foi ao juiz para reconhecer que  tinha cometido um pênalti, fato que não tinha sido observado pelo juiz, fazendo com que o árbitro assinalasse a falta máxima contra o America. Belford Duarte jamais foi expulso de campo. Por isso, em sua homenagem, o estádio do Coritiba Futebol Club até pouco tempo levou o seu nome e, também em sua homenagem, é conferido ao jogador que nunca tenha sido expulso de campo o prêmio Belford Duarte.

Até o ano de 1940, era a maior torcida do Brasil.  Em 1957 figurou à frente de todos os times em popularidade, em concurso promovido pelo Relógio da marca Longines. Obteve 92.802(noventa e dois mil, oitocentos e dois) votos contra 52.214(cinquenta e dois mil, duzentos e catorze) votos do Flamengo.

O Flamengo ficou sete anos sem nos vencer e vencemos dois campeonatos em cima do Fluminense e um em cima do Botafogo.

É o clube com mais homônimos no Brasil, existindo mais de 190(cento e noventa) Americas, sendo que o Americano de Campos e o rubro-negro Clube Atlético Paranaense também nasceram do America (o Atlético é a união do Internacional preto com o America vermelho).

Osvaldo Melo foi o maior jogador brasileiro de sua época, na década de 20, sendo que o artilheiro do campeonato Taça de Prata, de 1969, na verdade, o campeonato nacional daquela época, Edu, só não foi convocado para a seleção brasileira em virtude de ser irmão de Nando, também jogador, e primo de Cecília Coimbra, do grupo Tortura Nunca Mais, ambos presos e torturados pela ditadura militar. Edú foi, inclusive, apontado como melhor jogador da América Latina, ficando na artilharia à frente de Pelé. Em pleno 1964, excursionou à República Socialista da Tchecoslováquia, empatando com essa seleção.

Teve em seus quadros um erudito jogador, negro, “Maneco”, que jamais aceitou treinar ou jogar em outro clube, uma vez que era torcedor vermelho, mesmo tendo recebido propostas mais vantajosas de outros clubes. Esse jogador sofreu a vida toda o mais vil racismo, com jornais da época estampando figuras de macaco, sendo que, no tricampeonato da seleção carioca contra a seleção paulista, a Federação em sua “homenagem” ofereceu no jantar sorvete de creme de sobremesa, dizendo que Maneco era um “negro de alma branca”. Teve trágico fim, também motivado pelo preconceito, uma vez que, ao atrasar a prestação do apartamento que comprou para os seus pais, mesmo tendo o America demonstrado a vontade de sanar a dívida, o proprietário não voltou atrás e mandou executar a desocupação do imóvel. Em virtude disso, suicidou-se. Com a repercussão do caso, o proprietário racista aceitou a proposta dos conselheiros do América de pagamento da dívida– capitaneados por Sobral Pinto -  e desistiu de desabrigar os pais de Maneco que receberam a chave definitiva.

É significativa a postura da torcida americana pelas liberdades democráticas, tendo durante a Ditadura Militar criado a "Brigada Rubra" que denunciava o arbítrio e, recentemente, foi criada a torcida "Anarcomunamerica" que denunciava as danosas reformas da previdência e trabalhista, além de ter exibido faixas nos jogos, mesmo antes da Lei que confere a livre manifestação nos estádios. Agora, a torcida "Anarcomunamerica" encontra-se proibida de frequentar os jogos pela direção do clube que, por meio de seus seguranças, mandou agredir um de nossos torcedores, Heitor Burgos, não sem antes ter mandado arrancar a bandeira da Palestina, a faixa na qual escrito “ Ditadura Nunca Mais” e a bandeira da República Popular da China. Por meio de milícias, a direção do América mandou que fôssemos agredidos – o que realmente aconteceu.

O America foi o criador do futsal e o primeiro a disputar basquete e vôlei.

Ademais, possui o hino e a camisa reconhecidamente mais bonitos! Atualmente, o clube tem um presidente negro, Romário, tetracampeão do mundo, que está fazendo com que nosso clube ascenda.

Nenhum outro resistiria a tantas adversidades como as que o America enfrentou e tem enfrentado. Assim como muitos, teriam acabado se passassem pelas dificuldades enfrentadas por nosso clube. Por essas e outras que, efetivamente, a história do America deve ser vista não só pelo lado das vitórias, uma vez que competir também é importante. Nascido dos pobres tornou-se tão superior que nem precisa ganhar. É uno e múltiplo.

 

André de Paula é membro da Anistia Internacional,  advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto –Fist,  membro da Torcida Anarcomunamerica e  membro da Comissão Dominicana de Justiça e Paz.

 

https://www.facebook.com/frenteinternacionalista.fist

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sábado, 16 de setembro de 2023

AMERICA FOOTBALL CLUB - DE PACIFICADOR A VINGADOR

 

André de Paula

 

Em dezoito de setembro de 1904, surgia o clube que nasceu para combater os poderosos do seu tempo. O America sempre foi um time da resistência, surgido na Gamboa (bairro pobre e proletário do Rio de Janeiro). Sua primeira camisa foi da cor preta, provavelmente em homenagem ao anarquismo, ideologia de grande parte do proletariado nascente e dos fundadores do America, a maioria da família Mohrstedt que, inclusive, tinha  um jornal anarquista.

Por influência de meu falecido pai, comecei a torcer pelo Flamengo. Contudo, no primeiro jogo em que fui ao Maracanã, ao me deparar com o clube da camisa vermelha que jogava na preliminar, imediatamente me bandeei para ele. E olha que foi em 1965, quando ficamos quase um ano sem vencer ninguém.

Já fui torcedor fanático, porém me conscientizei de que futebol é diversão, não pode ser “ópio do povo” nem estar acima da luta por uma sociedade igualitária.

Éramos conhecidos, de maneira preconceituosa, como os “urubus de sarjeta” devido à nossa origem humilde. Sempre tivemos que lutar contra os times dos ricos. Fomos, depois, do Bangu, o primeiro time a admitir pessoas negras em suas fileiras – segundo o livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, de Mário Filho.

Teve o maestro Villa-Lobos entre os seus fundadores, nunca ganhou nenhum campeonato roubado, tendo atraído por tal motivo a preferência dos intelectuais.

Em 1948, realizou oito partidas vitoriosas nos Andes, conquistando a primeira “Fita Azul” do futebol brasileiro. Em 1959, quando ainda não havia o Mundial de Clubes, realizou treze jogos na Europa e quatro na America, sem perder, conquistando a segunda “Fita Azul”. Já em 1961, uma vez que em 1960 não excursionou, conquistou a “ Terceira Fita Azul” com sete jogos invictos no exterior.

O America foi o primeiro clube brasileiro a jogar no exterior, sendo base da Seleção Brasileira de 1956, tendo empatado com a seleção canarinho em 1982 e vencido a seleção carioca em 1987. Soma 40 (quarenta) vitórias, dezessete derrotas e dezessete empates contra seleções, tendo 163 (cento e sessenta e três) vitórias internacionais contra 65(sessenta e cinco) empates e 60 (sessenta) derrotas.

Foram cedidos para a seleção brasileira, até hoje, 58 (cinquenta e oito) jogadores americanos.

Em 1949, venceu a Seleção do Chile por duas vezes, assim como já venceu as seleções da Grécia, Israel, Gana, Nigéria, Japão, Uruguai e Arábia Saudita, dentre outros. Vencedor de torneios internacionais, como o de Nova York (em 1962); Imprensa Peruana, em 1955, quando venceu o Santos na final; Quadrangular Sultana Del Valle e Quadrangular de Medellín, ambos em 1961; a Taça TAP, em 1973, contra o Benfica de Eusébio; o Torneio Negrão de Lima, no Brasil, em 1967 e o Torneio Costa Dourada, em Terragona, em 1983;

Vencedor de torneios nacionais como o Torneio Costa e Silva, em Vitória do Espírito Santo, e Torneio Luiz Viana Filho, em Salvador da Bahia. É o vingador do futebol brasileiro, pois, em feriado comemorativo em Montevidéu, em 1951, derrotou o Penarol por 3 a1, que representava a seleção uruguaia, que contou com oito jogadores que estiveram na conquista do campeonato mundial, em 1950, no Maracanã.  Campeão dos Campeões em 1982, título nacional, e vencedor da Taça dos Campeões Interestaduais Rio-São Paulo (em 1916 e 1936). Primeiro Campeão da Guanabara (1960), conquistou a Zona Sul da Taça Brasil (1961), foi Campeão do Centenário em 1922, além de conquistar outros sete títulos cariocas, perfazendo um total de nove títulos, pois também venceu dois campeonatos cariocas extras, em 1938 e em 1952. Ganhou do Botafogo de 11 X 2 em 1929, em repetição de jogo anterior contestado pelos botafoguenses e os aspirantes do América já venceram os titulares do Vasco por 5 X 1.

O mais prejudicado pelas arbitragens e conchavos, excluído do Campeonato Nacional sem ter sido rebaixado, quando ficou em terceiro lugar num autêntico jogo de tapetão. Aliás, era para ter sido campeão nacional, tendo sido roubado em jogo no Maracanã no empate contra o São Paulo que fez um gol irregular. Foi “garfado” em vários Campeonatos e Taças. Sempre foi prejudicado pelo voto plural quando a vontade da  maioria dos clubes cariocas não significava a maioria dos votos. Depois, na briga de Giulite Coutinho, presidente do América, com o  "Caixa d’Água", presidente da Federação, éramos roubados para não ofuscar o Americano, time de coração do presidente Eduardo Viana, vulgo "Caixa d'Água". Atualmente, várias vezes não conseguimos jogar em nosso estádio, devido a exigências descabidas, tamanho é o nosso descrédito, enquanto fomos obrigados a jogar, por exemplo, no campo do Nova Cidade, em Nilópolis, que nem arquibancada tem, enquanto que o nosso estádio tem capacidade para treze mil pessoas sentadas. Agora, na Federação continua a roubalheira para que o América não suba à primeira divisão e não ofusque Bangu e Madureira, times do presidente Rubinho e do vice-presidente Duba, respectivamente. Além do mais, a filha do presidente Rubinho tem ação trabalhista contra o America. Em 1916 não foi campeão invicto, pois um torcedor do Andaraí, ausente o juiz, foi escalado como árbitro, deixou de dar  pênaltis a favor do America e anulou gols, saindo o Andaraí vitorioso por 1 X 0.

É o clube mais simpático, em virtude de vários acontecimentos históricos: pôs fim à desavença entre Flamengo e Botafogo; unificou com o Vasco o Campeonato Carioca, ganhando a Taça Clássico da Paz, disputada com o clube cruzmaltino que ainda não nos devolveu a taça conquistada. Em 1913, Belford Duarte, capitão do America, foi ao juiz para reconhecer que  tinha cometido um pênalti, fato que não tinha sido observado pelo juiz, fazendo com que o árbitro assinalasse a falta máxima contra o America. Belford Duarte jamais foi expulso de campo. Por isso, em sua homenagem, o estádio do Coritiba Futebol Club até pouco tempo levou o seu nome e, também em sua homenagem, é conferido ao jogador que nunca tenha sido expulso de campo o prêmio Belford Duarte.

Até o ano de 1940, era a maior torcida do Brasil.  Em 1957 figurou à frente de todos os times em popularidade, em concurso promovido pelo Relógio da marca Longines. Obteve 92.802(noventa e dois mil, oitocentos e dois) votos contra 52.214(cinquenta e dois mil, duzentos e catorze) votos do Flamengo.

O Flamengo ficou sete anos sem nos vencer e vencemos dois campeonatos em cima do Fluminense e um em cima do Botafogo.

É o clube com mais homônimos no Brasil, existindo mais de 190(cento e noventa) Americas, sendo que o Americano de Campos e o rubro-negro Clube Atlético Paranaense também nasceram do America (o Atlético é a união do Internacional preto com o America vermelho).

Osvaldo Melo foi o maior jogador brasileiro de sua época, na década de 20, sendo que o artilheiro do campeonato Taça de Prata, de 1969, na verdade, o campeonato nacional daquela época, Edu, só não foi convocado para a seleção brasileira em virtude de ser irmão de Nando, também jogador, e primo de Cecília Coimbra, do grupo Tortura Nunca Mais, ambos presos e torturados pela ditadura militar. Edú foi, inclusive, apontado como melhor jogador da América Latina, ficando na artilharia à frente de Pelé.

Teve em seus quadros um erudito jogador, negro, “Maneco”, que jamais aceitou treinar ou jogar em outro clube, uma vez que era torcedor vermelho, mesmo tendo recebido propostas mais vantajosas de outros clubes. Esse jogador sofreu a vida toda o mais vil racismo, com jornais da época estampando figuras de macaco, sendo que, no tricampeonato da seleção carioca contra a seleção paulista, a Federação em sua “homenagem” ofereceu no jantar sorvete de creme de sobremesa, dizendo que Maneco era um “negro de alma branca”. Teve trágico fim, também motivado pelo preconceito, uma vez que, ao atrasar a prestação do apartamento que comprou para os seus pais, mesmo tendo o America demonstrado a vontade de sanar a dívida, o proprietário não voltou atrás e mandou executar a desocupação do imóvel. Em virtude disso, suicidou-se. Com a repercussão do caso, o proprietário racista aceitou a proposta dos conselheiros do América de pagamento da dívida– capitaneados por Sobral Pinto -  e desistiu de desabrigar os pais de Maneco que receberam a chave definitiva.

É significativa a postura da torcida americana pelas liberdades democráticas, tendo durante a Ditadura Militar criado a "Brigada Rubra" que denunciava o arbítrio e, recentemente, foi criada a torcida "Anarcomunamerica" que denunciava as danosas reformas da previdência e trabalhista, além de ter exibido faixas nos jogos, mesmo antes da Lei que confere a livre manifestação nos estádios.

O America foi o criador do futsal e o primeiro a disputar basquete e vôlei.

Ademais, possui o hino e a camisa reconhecidamente mais bonitos!

Encontra-se, atualmente, em má-situação, pois a diretoria não sabe como enfrentar o esquema de Rubinho e Duba. É verdade, porém, que recebeu uma herança de anos de ostracismo e dívidas e a oposição que por lá já passou - e nada fez -  não parece ser a alternativa. Nossa esperança é o surgimento fortalecido do futebol feminino, o trabalho de base para o América do futuro e a unificação de todas as forças do clube. Nenhum outro resistiria a tantas adversidades como as que o America enfrentou e tem enfrentado. Assim como muitos, teriam acabado se passassem pelas dificuldades enfrentadas por nosso clube. Por essas e outras que, efetivamente, a história do America deve ser vista não só pelo lado das vitórias, uma vez que competir também é importante. Nascido dos pobres tornou-se tão superior que nem precisa ganhar. É uno e múltiplo.

 

André de Paula é membro da Anistia Internacional,  advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto –Fist  e membro da Torcida Anarcomunamerica.

 

https://www.facebook.com/frenteinternacionalista.fist

http://fistrj.blogspot.com.br

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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

O AMERICA É TÃO SUPERIOR QUE NEM PRECISA GANHAR


 André de Paula


Por influência de meu falecido pai, comecei a torcer pelo Flamengo.

No primeiro jogo em que fui ao Maracanã, ao me deparar com o clube da camisa vermelha que jogava na preliminar, imediatamente me bandeei para ele. E olha que foi em 1965, quando ficamos quase um ano sem vencer ninguém.

Já fui torcedor fanático, porém me conscientizei de que futebol é diversão, não pode ser “ópio do povo” nem estar acima da luta por uma sociedade igualitária.

O America sempre foi um time da resistência, surgido na Gamboa (bairro pobre e operário do Rio de Janeiro). Sua primeira camisa foi da cor preta, provavelmente em homenagem ao anarquismo, ideologia de grande parte do proletariado nascente e dos fundadores do America, a maioria da família Mohrstedt que, inclusive, tinha  um jornal anarquista.

Éramos conhecidos, de maneira preconceituosa, como os “urubus de sarjeta” devido à nossa origem humilde. Sempre tivemos que lutar contra os times dos ricos. Fomos, depois, do Bangú, o primeiro time a admitir pessoas negras em suas fileiras – segundo o livro “O Negro do Futebol Brasileiro”, de Mário Filho.

Fundado em 18 de setembro de 1904, teve o maestro Villa-Lobos entre seus fundadores e nunca ganhou nenhum campeonato roubado.

Em 1959, quando não havia Mundial de Clubes, realizou treze jogos na Europa e com mais onze jogos realizados na América (1959-1961), totalizou 24 partidas invictas, tornando-se record "Fita Azul" do futebol brasileiro. O America foi o primeiro clube brasileiro a jogar no exterior, sendo base da Seleção Brasileira de 1956, tendo empatado com a seleção canarinho em 1982 e vencido a seleção carioca em 1987. Soma 39 (trinta e nove) vitórias, dezessete derrotas e dezessete empates contra seleções, tendo 163 (cento e sessenta e três) vitórias internacionais contra 65(sessenta e cinco) empates e 60 (sessenta) derrotas.

Foram cedidos para a seleção brasileira, até hoje, 58 (cinquenta e oito) jogadores americanos.

Em 1949, venceu a Seleção do Chile por duas vezes. Vencedor de torneios internacionais, como o de Nova York (em 1962); dois na Colômbia; o Torneio Negrão de Lima, no Brasil; um Torneio Internacional na Espanha, Torneio Quadrangular de Lima, no Peru, quando venceu o Santos na final. Vencedor de torneios nacionais como o Torneio Costa e Silva, em Vitória do Espírito Santo, e Torneio Luiz Viana Filho, em Salvador da Bahia. É o vingador do futebol brasileiro, pois, em feriado comemorativo em Montevidéu, em 1951, derrotou o Penarol por 3 a1, que representava a seleção uruguaia, que contou com oito jogadores que estiveram na conquista do campeonato mundial, em 1950, no Maracanã.  Campeão dos Campeões em 1982, título nacional, e vencedor da Taça dos Campeões Interestaduais Rio-São Paulo (em 1916 e 1936). Primeiro Campeão da Guanabara (1960), conquistou a Zona Sul da Taça Brasil (1961), foi Campeão do Centenário em 1922, além de conquistar outros sete títulos cariocas, perfazendo um total de nove títulos, pois também venceu dois campeonatos cariocas extras, em 1938 e em 1952. Ganhou do Botafogo de 11 X 2 em 1929, em repetição de jogo anterior contestado pelos botafoguenses e os aspirantes do América já venceram os titulares do Vasco por 5 X 1.

O mais prejudicado pelas arbitragens e conchavos, excluído do Campeonato Nacional sem ter sido rebaixado, quando ficou em terceiro lugar num autêntico jogo de tapetão. Aliás, era para ter sido campeão nacional, tendo sido roubado em jogo no Maracanã no empate contra o São Paulo que fez um gol irregular. Foi “garfado” em vários Campeonatos e Taças. Sempre foi prejudicado pelo voto plural quando a vontade da  maioria dos clubes cariocas não significava a maioria dos votos. Depois, na briga de Giulite Coutinho, presidente do America, com o  "Caixa d’Água", presidente da Federação, éramos roubados para não ofuscar o Americano, time de coração do presidente Eduardo Viana, vulgo "Caixa d'Água". Atualmente, várias vezes não conseguimos jogar em nosso estádio, devido a exigências descabidas, tamanho é o nosso descrédito, enquanto fomos obrigados a jogar, por exemplo, no campo do Nova Cidade, em Nilópolis, que nem arquibancada tem, enquanto que o nosso estádio tem capacidade para treze mil pessoas sentadas. Agora, na Federação continua a roubalheira para que o America não suba à primeira divisão e não ofusque Bangu e Madureira, times do presidente Rubinho e do vice-presidente Duba, respectivamente. Além do mais, a filha do presidente Rubinho tem ação trabalhista contra o America. Em 1916 não foi campeão invicto, pois um torcedor do Andaraí, ausente o juiz, foi escalado como árbitro, deixou de dar  pênaltis a favor do América e anulou gols, saindo o Andaraí vitorioso por 1 X 0.

É o clube mais simpático, em virtude de vários acontecimentos históricos: pôs fim à desavença entre Flamengo e Botafogo, unificou com o Vasco o Campeonato Carioca, ganhando a Taça Clássico da Paz, disputada com o clube cruzmaltino que ainda não nos devolveu a taça conquistada. Em 1913, Belford Duarte, capitão do America, foi ao juiz para reconhecer que  tinha cometido um pênalti, fato que não tinha sido observado pelo juiz, fazendo com que o árbitro assinalasse a falta máxima contra o America. Belford Duarte jamais foi expulso de campo. Por isso, em sua homenagem, o estádio do Coritiba Futebol Club até pouco tempo levou o seu nome e, também em sua homenagem, é conferido ao jogador que nunca tenha sido expulso de campo o prêmio Belford Duarte.

Até o ano de 1940, era a maior torcida do Brasil.  Em 1957 figurou à frente de todos os times em popularidade, em concurso promovido pelo Relógio da marca Longines. Obteve 92.802(noventa e dois mil, oitocentos e dois) votos contra 52.214(cinquenta e dois mil, duzentos e catorze) votos do Flamengo.

O Flamengo ficou sete anos sem nos vencer e vencemos dois campeonatos em cima do Fluminense e um em cima do Botafogo.

É o clube com mais homônimos no Brasil, existindo cerca de 40(quarenta) Américas, sendo que o Americano de Campos e o rubro-negro Clube Atlético Paranaense também nasceram do América (o Atlético é a união do Internacional preto com o America vermelho).

Osvaldo Melo foi o maior jogador brasileiro de sua época, na década de 20, sendo que o artilheiro do campeonato Taça de Prata, de 1969, na verdade, o campeonato nacional daquela época, Edu, só não foi convocado para a seleção brasileira em virtude de ser irmão de Nando, também jogador, e primo de Cecília Coimbra, do grupo Tortura Nunca Mais, ambos presos e torturados pela ditadura militar. Edú foi, inclusive, apontado como melhor jogador da América Latina, ficando na artilharia à frente de Pelé.

É significativa a postura da torcida americana pelas liberdades democráticas, tendo durante a Ditadura Militar criado a "Brigada Rubra" que denunciava o arbítrio e, recentemente, foi criada a torcida "Anarcomunamerica" que denunciava as danosas reformas da previdência e trabalhista, além de ter exibido faixas nos jogos, mesmo antes da Lei que confere a livre manifestação nos estádios.

O América foi o criador do futsal e o primeiro a disputar basquete e vôlei.

Ademais, possui o hino e a camisa reconhecidamente mais bonitos!

Encontra-se, atualmente, em má-situação, pois a diretoria não sabe como enfrentar o esquema de Rubinho e Duba. É verdade, porém, que recebeu uma herança de anos de ostracismo e dívidas e a oposição que por lá já passou -  e nada fez -  não parece ser a alternativa. Nossa esperança é o surgimento fortalecido do futebol feminino e o trabalho de base para o America do futuro. Nenhum outro clube resistiria a tantas adversidades como o America enfrentou e tem enfrentado. Assim como muitos, já teriam acabado se passassem pelas dificuldades enfrentadas por nosso clube. Por essas e outras que, efetivamente, a história do America deve ser vista não só pelo lado das vitórias, uma vez que competir também é importante. Nascido dos pobres tornou-se tão superior que nem precisa ganhar.

 

André de Paula é membro da Anistia Internacional,  advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Tetos –Fist  e membro da Torcida Anarcomunamerica.

 

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terça-feira, 26 de julho de 2022

OPINIÃO - A TENTATIVA DE MEU ASSASSINATO E DA ADVOGADA NEGRA BÁRBARA DOS SANTOS




André de Paula

O cidadão bolsonarista Marcelo Moutinho Santana, agente de saúde da Secretaria do Município do Rio de Janeiro, foi flagrado pelas câmeras do prédio em que moramos queimando a porta de nosso apartamento, não sem antes ter jogado artefato incendiário pela nossa janela, o que poderia ter levado o sinistro ao prédio todo.

Já vinha o terrorista, há muito, nos ameaçando por meio  do interfone. Só descobrimos sua identidade após o ato incendiário, pois o interfone não acusa o interlocutor que mora dois andares acima do nosso.

Para evitar o flagrante, a síndica nos negou a cópia das fitas, o que só foi conseguido dias após, quando da instauração do inquérito.

Essa mesma síndica nos multou por, no horário permitido das 20:30h, de nossa janela, participarmos das manifestações “Fora Bolsonaro!”, que acontecia ano passado em todo o país. Evidentemente não pagamos e não pagaremos essa coercitiva e ilegal multa e, ao revés, estamos com ação contra o condomínio.

Nenhuma medida contra o bolsonazi, nenhuma medida contra os outros  bolsonaristas do prédio que também se manifestaram e nenhuma medida contra os torcedores de times de futebol que, mesmo de madrugada, dão vazão a sua alegria por vitória do time. Sequer uma assembleia foi realizada, apesar da insistência nossa para discutir tão grave atitude que poderia ter levado óbito a vários moradores do prédio.

Parece que a coisa foi realmente orquestrada, pois mentiram em juízo, tanto a síndica quanto um dos funcionários por ela orientado. Sendo que a síndica, para tentar atenuar o crime do incendiário, chegou a afirmar que nós fazíamos atos pela madrugada adentro. O funcionário está, inclusive, respondendo em juízo por falso testemunho.

Outro viés da emblemática e sórdida trama criminosa acontecida é o fato de a advogada Bárbara, minha companheira então, ser negra, fato jamais tolerado pelos bolsonazis racistas do prédio.

Agem, esses bolsonazis, como os camisas pretas de Mussolini, o presidente insufla e eles fazem o serviço sujo.

Nessa marcha, foram e são vítimas os que lutam pela liberdade de expressão e pela defesa dos direitos humanos, como foi o nosso caso, advogados da Frente Internacionalista dos Sem Teto - Fist.

Na ação da 17ª Vara Criminal, o senhor Marcelo, réu confesso, juntou laudo alegando ser portador de doença mental. Como uma pessoa que trabalha com saúde no Município pode ser louco?

Aliás, esse psicopata atropelou, aleijou e não socorreu quando dirigia bêbado em Saquarema, pelo que também responde na Justiça.

E a OAB, chamada que foi, nenhuma nota de apoio, nenhum desagravo aos advogados, um deles membro da Anistia Internacional e a outra, ex-membra da Comissão de Igualdade Racial da Ordem. Será pelo fato de a OAB/RJ ter em suas hostes dirigentes bolsonaristas confessos? Aliás, a Ordem vem claudicando e dando azo à proliferação do fascismo.

Recentemente, Arão da Providência, advogado indígena da Aldeia Maracanã, para a qual também advogamos, teve uma peça de defesa na Justiça Federal enviada pelo desembargador Alcides Martins para a Polícia Federal, para onde foi chamado o advogado, sem nenhuma solidariedade da Ordem que, sequer, compareceu a sua oitiva. Ficou claro, nesse caso, mais uma vez a coerção intimidatória fascista, como nos tempos da ditadura militar - que criminalizava o direito de ampla defesa e contraditório- que Bolsonaro quer reviver.

A OAB, lavando as mãos e deixando que seus pares sejam criminalizados ou assassinados, cumpre papel bem diverso da resistência que ofereceu nos tempos sombrios da Ditadura.

Urge romper o isolamento, fazendo-se necessário o apoio a vidas humanas que representam os vulneráveis e pobres de nossa sociedades.

 

André de Paula é advogado da Frente Internacionalista do Sem-Teto(Fist), membro da Anistia Internacional e da Anarcomunamerica(torcida antifascista do America do Rio).

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