André de Paula
Por influência de meu falecido pai, comecei a torcer pelo Flamengo.
No primeiro jogo em que fui ao
Maracanã, ao me deparar com o clube da camisa vermelha que jogava na
preliminar, imediatamente me bandeei para ele. E olha que foi em 1965, quando
ficamos quase um ano sem vencer ninguém.
Já fui torcedor fanático, porém
me conscientizei de que futebol é diversão, não pode ser “ópio do povo” nem
estar acima da luta por uma sociedade igualitária.
O America sempre foi um time da
resistência, surgido na Gamboa (bairro pobre e operário do Rio de Janeiro). Sua
primeira camisa foi da cor preta, provavelmente em homenagem ao anarquismo,
ideologia de grande parte do proletariado nascente e dos fundadores do America,
a maioria da família Mohrstedt que, inclusive, tinha um jornal anarquista.
Éramos conhecidos, de maneira
preconceituosa, como os “urubus de sarjeta” devido à nossa origem humilde.
Sempre tivemos que lutar contra os times dos ricos. Fomos, depois, do Bangú, o
primeiro time a admitir pessoas negras em suas fileiras – segundo o livro “O
Negro do Futebol Brasileiro”, de Mário Filho.
Fundado em 18 de setembro de
1904, teve o maestro Villa-Lobos entre seus fundadores e nunca ganhou nenhum
campeonato roubado.
Em 1959, quando não havia Mundial
de Clubes, realizou treze jogos na Europa e com mais onze jogos realizados na
América (1959-1961), totalizou 24 partidas invictas, tornando-se record
"Fita Azul" do futebol brasileiro. O America foi o primeiro clube
brasileiro a jogar no exterior, sendo base da Seleção Brasileira de 1956, tendo
empatado com a seleção canarinho em 1982 e vencido a seleção carioca em 1987.
Soma 39 (trinta e nove) vitórias, dezessete derrotas e dezessete empates contra
seleções, tendo 163 (cento e sessenta e três) vitórias internacionais contra
65(sessenta e cinco) empates e 60 (sessenta) derrotas.
Foram cedidos para a seleção
brasileira, até hoje, 58 (cinquenta e oito) jogadores americanos.
Em 1949, venceu a Seleção do
Chile por duas vezes. Vencedor de torneios internacionais, como o de Nova York
(em 1962); dois na Colômbia; o Torneio Negrão de Lima, no Brasil; um Torneio
Internacional na Espanha, Torneio Quadrangular de Lima, no Peru, quando venceu
o Santos na final. Vencedor de torneios nacionais como o Torneio Costa e Silva,
em Vitória do Espírito Santo, e Torneio Luiz Viana Filho, em Salvador da Bahia.
É o vingador do futebol brasileiro, pois, em feriado comemorativo em
Montevidéu, em 1951, derrotou o Penarol por 3 a1, que representava a seleção
uruguaia, que contou com oito jogadores que estiveram na conquista do
campeonato mundial, em 1950, no Maracanã.
Campeão dos Campeões em 1982, título nacional, e vencedor da Taça dos
Campeões Interestaduais Rio-São Paulo (em 1916 e 1936). Primeiro Campeão da
Guanabara (1960), conquistou a Zona Sul da Taça Brasil (1961), foi Campeão do
Centenário em 1922, além de conquistar outros sete títulos cariocas, perfazendo
um total de nove títulos, pois também venceu dois campeonatos cariocas extras,
em 1938 e em 1952. Ganhou do Botafogo de 11 X 2 em 1929, em repetição de jogo
anterior contestado pelos botafoguenses e os aspirantes do América já venceram
os titulares do Vasco por 5 X 1.
O mais prejudicado pelas
arbitragens e conchavos, excluído do Campeonato Nacional sem ter sido
rebaixado, quando ficou em terceiro lugar num autêntico jogo de tapetão. Aliás,
era para ter sido campeão nacional, tendo sido roubado em jogo no Maracanã no
empate contra o São Paulo que fez um gol irregular. Foi “garfado” em vários
Campeonatos e Taças. Sempre foi prejudicado pelo voto plural quando a vontade
da maioria dos clubes cariocas não
significava a maioria dos votos. Depois, na briga de Giulite Coutinho,
presidente do America, com o "Caixa
d’Água", presidente da Federação, éramos roubados para não ofuscar o
Americano, time de coração do presidente Eduardo Viana, vulgo "Caixa
d'Água". Atualmente, várias vezes não conseguimos jogar em nosso estádio,
devido a exigências descabidas, tamanho é o nosso descrédito, enquanto fomos
obrigados a jogar, por exemplo, no campo do Nova Cidade, em Nilópolis, que nem
arquibancada tem, enquanto que o nosso estádio tem capacidade para treze mil
pessoas sentadas. Agora, na Federação continua a roubalheira para que o America
não suba à primeira divisão e não ofusque Bangu e Madureira, times do
presidente Rubinho e do vice-presidente Duba, respectivamente. Além do mais, a
filha do presidente Rubinho tem ação trabalhista contra o America. Em 1916 não
foi campeão invicto, pois um torcedor do Andaraí, ausente o juiz, foi escalado
como árbitro, deixou de dar pênaltis a
favor do América e anulou gols, saindo o Andaraí vitorioso por 1 X 0.
É o clube mais simpático, em
virtude de vários acontecimentos históricos: pôs fim à desavença entre Flamengo
e Botafogo, unificou com o Vasco o Campeonato Carioca, ganhando a Taça Clássico
da Paz, disputada com o clube cruzmaltino que ainda não nos devolveu a taça
conquistada. Em 1913, Belford Duarte, capitão do America, foi ao juiz para
reconhecer que tinha cometido um
pênalti, fato que não tinha sido observado pelo juiz, fazendo com que o árbitro
assinalasse a falta máxima contra o America. Belford Duarte jamais foi expulso
de campo. Por isso, em sua homenagem, o estádio do Coritiba Futebol Club até
pouco tempo levou o seu nome e, também em sua homenagem, é conferido ao jogador
que nunca tenha sido expulso de campo o prêmio Belford Duarte.
Até o ano de 1940, era a maior
torcida do Brasil. Em 1957 figurou à
frente de todos os times em popularidade, em concurso promovido pelo Relógio da
marca Longines. Obteve 92.802(noventa e dois mil, oitocentos e dois) votos
contra 52.214(cinquenta e dois mil, duzentos e catorze) votos do Flamengo.
O Flamengo ficou sete anos sem
nos vencer e vencemos dois campeonatos em cima do Fluminense e um em cima do
Botafogo.
É o clube com mais homônimos no
Brasil, existindo cerca de 40(quarenta) Américas, sendo que o Americano de
Campos e o rubro-negro Clube Atlético Paranaense também nasceram do América (o
Atlético é a união do Internacional preto com o America vermelho).
Osvaldo Melo foi o maior jogador
brasileiro de sua época, na década de 20, sendo que o artilheiro do campeonato
Taça de Prata, de 1969, na verdade, o campeonato nacional daquela época, Edu,
só não foi convocado para a seleção brasileira em virtude de ser irmão de
Nando, também jogador, e primo de Cecília Coimbra, do grupo Tortura Nunca Mais,
ambos presos e torturados pela ditadura militar. Edú foi, inclusive, apontado
como melhor jogador da América Latina, ficando na artilharia à frente de Pelé.
É significativa a postura da
torcida americana pelas liberdades democráticas, tendo durante a Ditadura
Militar criado a "Brigada Rubra" que denunciava o arbítrio e, recentemente,
foi criada a torcida "Anarcomunamerica" que denunciava as danosas
reformas da previdência e trabalhista, além de ter exibido faixas nos jogos,
mesmo antes da Lei que confere a livre manifestação nos estádios.
O América foi o criador do futsal
e o primeiro a disputar basquete e vôlei.
Ademais, possui o hino e a camisa reconhecidamente mais
bonitos!
Encontra-se, atualmente, em
má-situação, pois a diretoria não sabe como enfrentar o esquema de Rubinho e
Duba. É verdade, porém, que recebeu uma herança de anos de ostracismo e dívidas
e a oposição que por lá já passou - e
nada fez - não parece ser a alternativa.
Nossa esperança é o surgimento fortalecido do futebol feminino e o trabalho de
base para o America do futuro. Nenhum outro clube resistiria a tantas
adversidades como o America enfrentou e tem enfrentado. Assim como muitos, já
teriam acabado se passassem pelas dificuldades enfrentadas por nosso clube. Por
essas e outras que, efetivamente, a história do America deve ser vista não só
pelo lado das vitórias, uma vez que competir também é importante. Nascido dos
pobres tornou-se tão superior que nem precisa ganhar.
André de Paula é membro da Anistia Internacional, advogado da Frente Internacionalista dos
Sem-Tetos –Fist e membro da Torcida
Anarcomunamerica.
https://www.facebook.com/frenteinternacionalista.fist
http://fistrj.blogspot.com.br
fist17@gmail.com
2 comentários:
*A CENSURA DEMITE O STF E SUA POLICIA ELEITORAL*
O Supremo Tribunal Federal e a sua polícia eleitoral, o TSE, destruíram por completo a honestidade da eleição presidencial a ser decidida no dia 30 de outubro; estão favorecendo, agora de forma aberta, um dos candidatos, o ex-presidente Lula. Para isso, violaram as leis brasileiras, expropriaram o horário de propaganda eleitoral para entregar ao seu escolhido o tempo que cabe legalmente ao adversário e, pior do que tudo, deram a si próprios poderes de censor que são absolutamente proibidos pela Constituição Federal – a eles ou a qualquer autoridade do Brasil. É o ataque mais ruinoso à democracia que o País já sofreu desde a proclamação do AI-5, em 1968. Mais: a censura que impuseram à imprensa, e a todos os 215 milhões de cidadãos brasileiros, não tem precedentes, nem nos piores momentos da ditadura, em matéria de brutalidade, arrogância e estupidez.
O TSE, sem o mínimo fiapo de lei que lhe permita fazer isso, saiu de suas funções legais como fiscal das regras do horário eleitoral e passou a mandar em tudo – agora dá ordens, 24 horas por dia e a respeito de qualquer assunto, à imprensa, aos jornalistas e, no fim das contas, a qualquer brasileiro que queira abrir a boca para dizer alguma coisa contra Lula, nas redes sociais ou onde for. É proibido dizer, por exemplo, que ele foi condenado pela Justiça por corrupção passiva e lavagem de dinheiro – ou que nunca foi absolvido de nada. Pior ainda, os ministros criaram a censura prévia – uma violação rasteira do princípio segundo o qual só se pode punir um erro depois que ele foi cometido. O resultado é que se chegou neste fim de campanha à seguinte demência: os jornalistas estão proibidos de dizer o que ainda não disseram. É isso mesmo: “até o dia 31 de outubro”, há profissionais e órgãos de imprensa que não podem escrever ou falar. O TSE não está punindo uma “notícia falsa”, ou algum crime de calúnia, de difamação ou de injúria; ao suprimir previamente o direito de palavra, está punindo delitos que não foram praticados. Em que lugar da Constituição se permite uma coisa dessas?
A dupla STF-TSE não está ferindo direitos de jornalistas ou veículos; está eliminando o direito que a população tem de ser informada. Nem se importa, aliás, em esconder isso. Uma ministra declarou em voto aberto que qualquer censura é “inadmissível” – mas que, em caráter “excepcional”, ela estava se negando a cumprir a lei. “Excepcional?” O que pode haver de excepcional, ou de perigoso, numa eleição democrática que, segundo os próprios STF e TSE, tem sistemas de votação e de apuração perfeitos – a possibilidade de que o adversário ganhe? É isso que estão dizendo. •
O Estado de S. Paulo.
23 out. 2022
https://digital.estadao.com.br/article/281788517987324
Editorial reacionário, parcial e injusto!
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