Por Racismo Ambiental
“Existe uma cumplicidade vergonhosa entre o Estado que faz o mal e a sociedade que o consente.” (Victor Hugo).
Todos nós, que não representamos o
modelo de cidade-empresa preconizado pela atual administração pública,
todos nós trabalhadores, artistas, indígenas, quilombolas, favelados,
defensores das diversas comunidades e culturas que habitam esse estado,
ou mesmo simples defensores da justiça, do processo democrático e do bem
público, resumidamente, todos nós que não estamos lucrando com os
roubos continuados e a exploração comercial criminosa dos bens comuns,
todos nós que não estamos lucrando com as constantes e graves violações
de direitos humanos no Rio de Janeiro, estamos sendo roubados. Todos nós
passamos por um período dramático de negociações, resistência popular, e
agressões do poder público (a mando de banqueiros, empreiteiros e
empresários literalmente fora-da-lei).
Do movimento “Reage, artista!”, à Aldeia
Maracanã. Das famílias centenárias de pequenos produtores agrícolas que
foram e estão sendo arrastadas pelos cabelos, para o Eike Batista lhes
roubar as terras, na região do Açu, até os operários do COMPERJ, em
Itaboraí… Ou as famílias que têm de viver com chuva de metal pesado,
adoecendo por causa da TKCSA em Santa Cruz, ou os moradores da Vila
Autódromo, da Providência, da região portuária, ou as vítimas das
milícias na zona oeste, ou os jovens e adultos, usuários ou não de
drogas, que são enfiados em centros de tortura e contenção química, em
casas controladas por milicianos e pagas pelo contribuinte, para que as
ruas sejam “limpas”… Em todo lugar, todos os dias, abrem-se novas
trincheiras de luta no nosso estado contra os ladrões e assassinos que
governam município, estado e estão entranhados na administração pública
até a esfera federal.
Em todas essas trincheiras, todos nós,
que acompanhamos e vivemos uma -ou mais- dessas lutas, estamos passando
por um processo de descobertas e empoderamento, um processo de retomada
dos nossos direitos políticos e de crise da terceirização desses
direitos (terceirização que nós chamamos de representatividade). Todos
esses movimentos devem ser plurais, aproveitar seus dissensos, e devem
ser permanentes. Não é um gestor, secretário, ou seja lá quem for, que
deve decidir os rumos da cultura, da habitação, da educação, da saúde e
dos investimentos no nosso estado. Quem deve decidir os rumos do bem
público são os povos que aqui vivem, juntos, respeitosos, organizados e
atentos. Todos nós ganhamos perspectiva de mudança e de futuro, ganhamos
um novo meio de olhar a vida, a cultura e o trabalho quando nos
organizamos como cidadãos e como trabalhadores, ao invés de ficar
esperando que “alguém” faça a coisa certa.
Porém, infelizmente “alguém” exerce o
poder sobre os meios de produção e sobre o poder público. “Alguém”
desvia o governo do interesse público para as falcatruas privadas
(falcatruas que de tão descaradas podem ser consideradas notórias.)
“Alguém” bate em todos nós, enquanto bate as nossas carteiras. “Alguém”
nos deixa impotentes e, muitas vezes, impossibilitados de fazer o que
precisamos, impossibilitados de trabalhar e viver.
Fica evidente nessas frentes de luta que
é imoral negociar demandas com esse governo sem lutar contra esse
governo, sem lutar contra tudo o que ele representa, sem lutar contra
tudo o que o governador Cabral pratica, principalmente seus crimes
comprovados. Não podemos simplesmente esperar benesses de alguém que
manda a tropa de choque agredir manifestantes pacíficos contra o aumento
CRIMINOSO das passagens de um transporte que deveria ser público. Não
podemos somente pedir, tranquilos, a manutenção do museu do índio,
sabendo que a vila autódromo foi criminosamente para o chão. Não podemos
só pedir que os teatros sejam reabertos, de consciência limpa, sabendo
que estamos falando com um prefeito que está prendendo, drogando e
torturando menores em situação de rua. Não podemos continuar somente
negociando, sabendo que estamos lidando com elementos que promovem e
acobertam o roubo de dezenas de milhões de reais dos hospitais públicos.
Esse governo deve ser combatido nas ruas.
Atualmente, em cada uma das lutas que
eclode no Rio de Janeiro a correlação de forças se mostra desesperadora.
É muito difícil para uma sociedade fragmentada combater uma indústria
coesa e consolidada de ladrões dispostos a matar. Sabemos que na
realidade a democracia deve ser um processo constante de inclusão,
debate e participação de todos, não importa quem ocupe os palácios de
governo. Porém, se nada for feito para impor limites a “playboycracia”
do governador Cabral e do prefeito Paes, que contaram com total apoio,
consciência e colaboração do governo federal até agora, dificilmente
teremos condições de organizar qualquer coisa que seja, pelo Rio de
Janeiro, no futuro próximo.
Os despejos para a copa do mundo, para
as olimpíadas, e para o Eike Batista, no atual estado de coisas, parecem
irreversíveis. O “banco imobiliário cidade olímpica” também deixa claro
quais são as intenções dos governantes para o público em geral e o
futuro dos nossos lares. Se não lutarmos todos juntos, vamos ser
massacrados individualmente por Eike, Cavendish (que sequer foi
indiciado), Nuzman, Coca-cola, FIFA e qualquer um que chegue com
dinheiro para os bandidos engravatados que nesse momento dizem nos
representar. Estamos sendo literalmente vendidos. Precisamos nos unir em
torno de demandas que sejam comuns a todos. E precisamos retomar
limites sobre o quanto nós deixamos essa gente nos insultar.
Na semana passada a grande imprensa
divulgou um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) que prova o
desvio de dezenas de milhões dos hospitais públicos. Esses hospitais
estavam sob a administração direta do senhor secretário de saúde, Sérgio
Côrtes, e era a assinatura dele nos contratos flagrantemente
fraudulentos. O relatório da CGU soma-se a outros do ministério público e
a diversas denúncias já apresentadas na ALERJ. A denúncia tem mais de
uma semana, e o governador não deu uma palavra a respeito, o que é
crime. Dificilmente o caso do governador nesses rombos na saúde é só de
omissão. Mas por omissão certamente ele já é responsável.
O secretário Sérgio Côrtes rouba solene e
continuamente do sistema público de saúde, mora em uma casa de 3,5
milhões de inexplicáveis reais, enquanto nossos familiares e amigos
morrem por falta de médico, por falta de equipamento, por falta de
medicamento. Idosos morrem nas filas dos hospitais. Crianças morrem nos
hospitais, baleadas nas ruas e sem direito ao atendimento que foi
roubado, em parte, pelo atual secretário de saúde. Até os jornais
denunciam essas mortes causadas pela precariedade do sistema público de
saúde.
É indecente que imprensa, sindicatos,
partidos, movimentos sociais organizados e cidadãos conscientes permitam
que isso continue acontecendo. Existe uma petição pública na internet
pedindo a prisão do secretário. Existe uma manifestação popular, marcada
para hoje, dia 27 de março, no Largo do Machado, pedindo o imediato
afastamento e a punição do secretário pelos roubos.
Essa é uma demanda comum e urgente. Essa
é uma oportunidade para a população impor algum limite à pouca vergonha
da desgovernança. Esse é o momento de nos unirmos em um processo
ecumênico de retomada da nossa dignidade.
Essa carta aberta é uma convocatória para exigirmos a derrubada do médico ladrão.
Essa carta aberta é convocatória para o ato de hoje, 27 de março.
Mas, sobretudo, essa carta é uma
convocatória para nos unirmos a todas as lutas que estão na rua agora,
em um processo conjunto. Para termos chances em nossas lutas
individuais, precisamos melhorar o ambiente democrático. Para garantir o
futuro e a segurança de todos.
>>>> Sobre o Ato
- O ATO É UMA MANIFESTAÇÃO PACÍFICA.
- COM CARÁTER DELIBERATIVO PERMANENTE SOBRE COMO REMOVER A QUADRILHA DO PODER E MELHORAR AS NOSSAS CHANCES NAS LUTAS.
- O ENCONTRO É NO LARGO DO MACHADO, SEM HORÁRIO PARA DISPERSÃO. QUALQUER MOVIMENTAÇÃO SERÁ DECIDIDA IN LOCO.
- EVITAR: CARROS DE SOM, MEGAFONES.
- TRAZER: CARTAZES, INTRUMENTOS MUSICAIS, PERFORMANCES, AMIGOS, FAMÍLIA, TRANQUILIDADE, OBJETOS LÚDICOS.
Não precisamos ter pressa e nem ficar nervosos. Quem tem que ficar nervosos são eles.
- Abaixo-assinado pela prisão do secretário: http://
www.peticaopublica.com.br/ ?pi=sccadeia