
acusações de quatro homicídios, em um deles como "cúmplice moral". Para Carlos Lungarzo, autor de Os Cenários Ocultos do Caso Battisti, o julgamento é uma farsa.
Membro
dos Proletários Armados para o Comunismo (PAC), movimento antifascista da
década de 1970, Battisti foi julgado à revelia e sem advogado. Por segredo de
justiça, as provas do caso nunca foram apresentadas. Em apenas uma das
acusações, a de cúmplice moral, existe uma testemunha. O delator de Battisti,
que não testemunhou os crimes, trocou a prisão perpétua por oito anos de
detenção.
Enquanto
morou na França, Battisti se tornou um escritor popular, seus títulos eram
publicados em formato de bolso e vendidos em bancas de jornal e em estações
de metrô. Os livros, escritos como romance policial, denunciavam torturas que
aconteciam na Itália.
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Segundo
Carlos Lungarzo, esse é o ponto de partida para o que chama de
"linchamento" da mídia e de grupos revanchistas. "A Itália
queria, de qualquer maneira, apagar uma voz que estava a denunciando",
disse. "Não havia outro, com tanta representatividade, que causasse um
impacto tão negativo ao país".
A
acusação de "cúmplice moral" pode parecer estranho. Cúmplice,
normalmente, é usado para designar alguém que contribuiu para a execução de um
delito, com a colaboração simultânea ou anterior ao crime. Cúmplice moral seria
o indivíduo que influenciou de alguma forma --com palavras, por exemplo-- para
que um criminoso agisse. Uma pessoa que inspira outra a cometer atos ilegais. Fazendo
uma analogia, seria o mesmo que condenar John Lennon pelos crimes de Charles
Manson.
A única
testemunha dos crimes foi exatamente no caso de cúmplice moral, cuja justiça
italiana reconhece que Battisti não estava presente. As denúncias surgiram no início
do inverno de 1982, quando um ex-militante foi torturado e contou uma história
que envolvia Battisti. Entre os mortos, estão três membros de grupos fascistas
e um policial acusado de participar da tortura.
Os Cenários Ocultos do Caso Battisti traz a pergunta: "Por que tamanha mobilização
contra Battisti?". "Um grande projeto de linchamento precisa de um
alvo adequado", diz Lungarzo. A edição também conta com uma entrevista
exclusiva com Battisti. Lungarzo, doutor em ciências sociais e ciências exatas
e pós-doutor em sociologia matemática, é professor titular da Unicamp e
participa de organizações de direitos humanos e de refugiados há mais de 30
anos.
Fonte: Fábio Andrighetto