BALANÇO DO VII CONGRESSO DA FIST

Com 390 pessoas presentes, foi realizado o VII Congresso da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST), no dia 13 de janeiro de 2013, na Aldeia Maracanã, antigo Museu do Índio, para dar apoio às 30 etnias ali residentes, reforçando à resistência dos indígenas diante do iminente despejo e demolição do Museu do Índio, para ser transformado em estacionamento, promovido pela ganância do capital que tem o governador do Estado como um dos seus representantes. A FIFA, ao ser consultada, disse que não pediu ao governador do Rio que o Museu fosse demolido, desmentindo, através da imprensa, nacional e internacional, o governo Sérgio Cabral.

A FIST é uma organização de massa do movimento popular que reúne 25 ocupações de terrenos urbanos da União, Estado, municípios e especuladores imobiliários privados do Estado do Rio de Janeiro. Na abertura do congresso falaram representantes dos movimentos sociais e autoridades: Dr. Antônio Modesto da Silveira, Conselheiro Membro da Comissão de Ética da Presidência da República; o franciscano Frei Lency; Emanuel Cancella, diretor do SINDIPETRO/RJ; Christiane Gerardo, representante da Vereadora Janira Rocha; o cineasta Sílvio Tendler; o antropólogo e indigenista Douglas Carraro, do LANAGRO-RJ (Laboratório Nacional Agropecuário); Afonso Apurinã, Presidente do Centro de Referencia da Cultura dos Povos Indígenas Aldeia Maracanã; MLB (Movimento de Luta os Bairros, Vilas e Favelas); MCP (Movimento das Comissões Populares); Movimento de Oposição Serventuária-RJ (MOS); Movimento de Moradores e Usuários em Defesa do IASERJ (MUDI); Movimento Mulheres em Luta (CONLUTAS); MTD Pela Base; Movimento Quilombo Raça e Classe; o representante da Associação Nacional de Estudantes (ANEL); Alexandre Samis, diretor de Formação Política do Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II (SINDSCOPE); representantes da UniRio, Vila Autódromo, União Popular Anarquista (UNIPA), Eduardo Henrique pelo PSTU e o vereador Henrique Vieira, representante do PSOL de Niterói.

Estavam presentes 17 ocupações da FIST com seus delegados: todos(as) os(as) representantes falaram dos problemas específicos de cada ocupação, agradecendo, ao final, o apoio dos movimentos sociais, das redes sociais e da mídia alternativa, que tanto tem colaborado para as suas legítimas causas, desmistificando a mídia oficial que criminaliza os moradores de favelas, ocupações, comunidades, chamando-os não de posseiros, mas de invasores. No entanto, a mídia, mascarando a verdade, defende os governos e os especuladores imobiliários, seus clientes, tornando-se uma grande fábrica de opiniões distorcidas, enganando o povo, criminalizando, inclusive, os próprios movimentos sociais.

Douglas Carraro, antropólogo e indigenista, falou do Lanagro. Disse que desde 14 de janeiro de 2013, o Rio de Janeiro não conta mais com os serviços de inspeção federal nos alimentos disponíveis no mercado, porque a Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (EMOP) está despejando os laboratórios do LANAGRO, que pertence ao Ministério da Agricultura, que funciona no Maracanã desde 1938. Disse também que os equipamentos científicos de alto custo financeiro estão sendo transferido para um depósito na Rua Barão de Teffé, no bairro do Porto, no Rio de Janeiro, e que não há previsão técnica para o funcionamento de um novo laboratório. E faz a pergunta que não quer calar: o que poderá acontecerá daqui para a frente com a população do Rio de Janeiro e também com os turistas da Copa das Confederações, da Copa do Mundo e das Olimpíadas, sem a fiscalização dos alimentos e bebidas feitas pelo laboratório do LANAGRO? O laboratório é de tal importância que sua certificação facilita a circulação e a aceitação de serviços e de produtos nos mercados nacional e internacional.

O diretor do SINDIPETRO-RJ, Emanuel Cancella, que fez a palestra da Campanha “O Petróleo Tem que Ser Nosso”, falou que o lucro do petróleo brasileiro, em especial o petróleo da camada do pré-sal, precisa gerar benefícios para todo o povo brasileiro, e não para as transnacionais do petróleo. Convocou a todos para se envolverem nesta grande campanha.

André de Paula discorreu sobre o número de remoções programadas para 2013; cerca de 170 mil pessoas, segundo o próprio The New York Times, um dos mais importantes jornais dos Estados Unidos, estarão desabrigadas até o início da Copa e Olimpíadas. No entanto, tememos que seja um número bem maior. André enfatizou o despertar da mídia internacional de olho na truculência que vem acontecendo em todo o Brasil, com os governos desrespeitando os direitos humanos, removendo sem diálogo e com violência as populações urbanas, principalmente os moradores de favelas, comunidades, e os proprietários de imóveis que ficam situados nos locais onde querem expandir seus megaprojetos de estradas, ligando norte a sul, leste a oeste. E seguem, no Rio de Janeiro, destruindo Museus, Laboratórios do Ministério da Agricultura, como o LANAGRO, e escolas. Um sem-número de irregularidades, com demolições sobre demolições, para entregar os terrenos às grandes empreiteiras e especuladores, a fim de construírem shoppings e estacionamentos, hotéis, blocos de edifícios, enfim, um baú de negócios com mais de 70% de dinheiro público - BNDES, Fundo de Aposentadorias, Fundo de Amparo ao Trabalhador, Caixa Econômica Federal. São esses os verdadeiros piratas urbanos, governos irmanados em favorecer benesses a serem destinadas aos ricos após os megaeventos - condomínios fechados, resorts, campo de golfe em áreas tombadas pelo Patrimônio Histórico, tudo sob a chancela da torpe desculpa da Copa e das Olimpíadas que ocorrerão no Brasil, em 2014 e 2016, respectivamente. Precisamos estar unidos em 2013, fortalecer os movimentos sociais para enfrentar tamanha negligência e espoliação de um Estado que desconhece a tremenda necessidade e miséria de milhares de brasileiros. Não podemos desanimar, mesmo diante de toda essa barbárie.

Às 18 horas encerrou-se o VII Congresso da Frente Internacionalista dos Sem-Teto, com todos entoando a Internacional e com muita preocupação por parte dos presentes quanto ao destino das cerca de 170 mil pessoas desabrigadas até as Olimpíadas. Preocupados, também, com a privatização do espaço público do Rio de Janeiro – e demais Estados do Brasil, com a depredação do Patrimônio Histórico Nacional, com os governos riscando a história do Brasil do mapa urbano, rasgando a Constituição Federal de 1988, uma grande conquista do povo, e com a mega corrupção de todos os setores governamentais do Brasil de hoje. Por tudo isso, Dr. André conclamou a união de todos os movimentos sociais e das poucas autoridades que ouvem e repercutem as atrocidades cometidas contra o povo brasileiro, antes, na calada da noite, hoje, em plena luz do dia e fartamente noticiada, não aqui, com o monopólio da mídia nacional nas mãos da Globo, da Veja, Estadão e Folha de São Paulo, mas sob os frequentes flashes da mídia internacional, da mídia alternativa e das redes sociais na internet.

A FIST convocou os movimentos sociais a se unirem contra toda essa violência e exigir desde já nossos direitos à cidadania e dignidade humanas. Foi reafirmada a prioridade pela luta contra remoções e despejos, pela aprovação do Projeto dos Movimentos Sociais da Campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso, Petrobrás 100% Estatal e sob o controle dos trabalhadores, dinheiro do petróleo para a SAÚDE, EDUCAÇÃO e MORADIA - gás natural a 1 REAL e NÃO AOS LEILÕES DO PETRÓLEO, anunciados para maio e novembro de 2013.