quinta-feira, 27 de março de 2014

A DITADURA MILITAR E A DITADURA DO CAPITAL

André de Paula

      Fomos eu, minha irmã Regina e meu ex-cunhado Daniel presos políticos torturados pelo golpe fascista de 64.Depois,fomos anistiados com ínfima quantia que ainda está pendente de recurso.Recentemente,pude restituir a cidadania brasileira e conseguir a anistia para o grande revolucionário luso-brasileiro internacionalista, o ex-padre Alípio de Freitas. Meu pai, coronel do Exército, participou da quartelada ,mas logo que constatou as torturas, rompeu com o regime genocida.Os bispos das Prelazias (agora Dioceses ) D.Estevão Avelar e D. Alano Pena, de Conceição do Araguaia e Marabá, respectivamente, no sul do Pará,responderam  inclusive a Inquérito Policial Militar (IPM). D. Alano ,que  também  foi Arcebispo de Niterói ,ainda se encontra vivo.Fomos Agentes de Pastoral em São Geraldo,lugar que não tinha sequer luz elétrica e que  foi palco da heróica Guerrilha do Araguaia.Praticávamos todo o tipo de caridade, desde a emissão de pareceres técnicos até  a  preparação de curativos,passando inclusive pela administração de sacramentos em uma área muito extensa  de 300km2, percorridos a pé mata a dentro.
      Tivemos que fugir  no final de  1976 para o Rio de Janeiro, após participarmos de um conflito de terra que  resultou na morte de dois policiais. Aqui fomos arrancados da casa de meu pai, conduzidos com violência até o quartel da PE, na rua Barão de Mesquita, onde funcionava o temível DOI-CODI.No dia seguinte,  20 de novembro, fomos conduzidos em avião da FAB para o aeroporto militar de Belém e em seguida ao Quartel General e  ao Batalhão de Selva, onde ficamos 55 dias presos e submetidos a várias espécies de suplícios.Depois de soltos, a perseguição política continuou.Fui liberado  para trabalhar em um projeto da Cáritas Holandesa, dirigida por Natividade, minha ex-companheira.O trabalho era desenvolvido na Associação de Moradores das Retas(Amor) onde funcionava uma escola comunitária que seguia o método de Paulo Freire. Lá organizamos uma ocupação de um conjunto habitacional abandonado, de 1000 famílias, em 1987. Por denunciar o crime de  exorbitantes impostos cobrados pelo então prefeito João Batista Cáffaro(do partido da ditadura militar PDS, antiga ARENA) e o monopólio que era exercido pela empresa de ônibus Rio -Ita ,fui baleado,escapando por puro milagre,guardando ainda vários estilhaços no corpo.
      Quem, em sã consciência, gostaria de ter o patrocínio de um advogado que a qualquer momento poderia desaparecer? Quem gostaria de ter como advogado um “subversivo” mal visto pela Justiça, então manipulada e corrompida pelos militares? Cheguei inclusive a ser isentado pela OAB do pagamento de anuidades tal a situação de penúria  em que me encontrava.Hoje a situação não parece muito mudada, saímos da ditadura militar e entramos na ditadura do capital com remoções e despejos desumanos; criminalização dos movimentos sociais,inclusive o nosso; violação da sala da FIST; eleições controladas pelas grandes empresas; Comissão da Meia Verdade, sem punição dos torturadores e sem oitiva dos inimigos do regime atual; leilões criminosos do petróleo e gás,que  acabam com a soberania nacional e o leilão e exploração do poluente xisto betuminoso; além da existência de  menos assentamentos rurais que na própria ditadura militar.
Fistrj.blospot.com.br


Nenhum comentário: