A DITADURA MILITAR E A
DITADURA DO CAPITAL
André de Paula
Fomos eu, minha irmã Regina e meu
ex-cunhado Daniel presos políticos torturados pelo golpe fascista de
64.Depois,fomos anistiados com ínfima quantia que ainda está pendente de
recurso.Recentemente,pude restituir a cidadania brasileira e conseguir a
anistia para o grande revolucionário luso-brasileiro internacionalista, o
ex-padre Alípio de Freitas. Meu pai, coronel do Exército, participou da
quartelada ,mas logo que constatou as torturas, rompeu com o regime genocida.Os
bispos das Prelazias (agora Dioceses ) D.Estevão Avelar e D. Alano Pena, de
Conceição do Araguaia e Marabá, respectivamente, no sul do
Pará,responderam inclusive a Inquérito
Policial Militar (IPM). D. Alano ,que
também foi Arcebispo de Niterói
,ainda se encontra vivo.Fomos Agentes de Pastoral em São Geraldo,lugar que não
tinha sequer luz elétrica e que foi
palco da heróica Guerrilha do Araguaia.Praticávamos todo o tipo de caridade,
desde a emissão de pareceres técnicos até a preparação de curativos,passando inclusive
pela administração de sacramentos em uma área muito extensa de 300km2, percorridos a pé mata a dentro.
Tivemos que fugir no final de
1976 para o Rio de Janeiro, após participarmos de um conflito de terra
que resultou na morte de dois policiais.
Aqui fomos arrancados da casa de meu pai, conduzidos com violência até o
quartel da PE, na rua Barão de Mesquita, onde funcionava o temível DOI-CODI.No
dia seguinte, 20 de novembro, fomos
conduzidos em avião da FAB para o aeroporto militar de Belém e em seguida ao
Quartel General e ao Batalhão de Selva,
onde ficamos 55 dias presos e submetidos a várias espécies de suplícios.Depois
de soltos, a perseguição política continuou.Fui liberado para trabalhar em um projeto da Cáritas
Holandesa, dirigida por Natividade, minha ex-companheira.O trabalho era
desenvolvido na Associação de Moradores das Retas(Amor) onde funcionava uma
escola comunitária que seguia o método de Paulo Freire. Lá organizamos uma
ocupação de um conjunto habitacional abandonado, de 1000 famílias, em 1987. Por
denunciar o crime de exorbitantes
impostos cobrados pelo então prefeito João Batista Cáffaro(do partido da
ditadura militar PDS, antiga ARENA) e o monopólio que era exercido pela empresa
de ônibus Rio -Ita ,fui baleado,escapando por puro milagre,guardando ainda
vários estilhaços no corpo.
Quem, em sã consciência, gostaria de ter
o patrocínio de um advogado que a qualquer momento poderia desaparecer? Quem
gostaria de ter como advogado um “subversivo” mal visto pela Justiça, então
manipulada e corrompida pelos militares? Cheguei inclusive a ser isentado pela
OAB do pagamento de anuidades tal a situação de penúria em que me encontrava.Hoje a situação não parece
muito mudada, saímos da ditadura militar e entramos na ditadura do capital com
remoções e despejos desumanos; criminalização dos movimentos sociais,inclusive
o nosso; violação da sala da FIST; eleições controladas pelas grandes empresas;
Comissão da Meia Verdade, sem punição dos torturadores e sem oitiva dos
inimigos do regime atual; leilões criminosos do petróleo e gás,que acabam com a soberania nacional e o leilão e
exploração do poluente xisto betuminoso; além da existência de menos assentamentos rurais que na própria
ditadura militar.
Fistrj.blospot.com.br
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