quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Será que o movimento sindical tem futuro?


Vamos falar sobre a greve dos bancários para mostrar alguns problemas do movimento sindical como um todo atualmente.


A situação da greve

A greve começou dia 06/10, e no dia 26 a proposta de acordo com a Federação dos Bancos (FENABAN) foi aprovada pela maioria das assembleias. Os sindicatos exigiam 16% e, mais uma vez, o índice vai ser praticamente a reposição da inflação (na verdade, até um pouco menos, porque não conta a inflação desde 1º de setembro). Por mais que em termos absolutos não é um resultado bom em termos relativos às greves de outras categorias está muito melhor o que serve para demonstrar o quão frágil está a situação da classe trabalhadora mesmo quando luta mas é claro que se faz necessário qualificar esta luta.

O mais importante são as condições do próprio movimento: como em todos os anos, não existe greve nos bancos privados (que são a maior parte da categoria). Quando o sindicato fecha uma agência, as pessoas continuam lá, realizando as operações e atendendo os clientes por telefone, ou então vão para uma agência aberta. Nos bancos públicos, a adesão a cada ano fica menor (no Banco do Brasil, em torno de somente 20%, na Caixa Econômica, um pouco mais). Os piquetes não são feitos pelos próprios bancários, e sim por funcionários dos sindicatos.

Existe, nos bancos públicos, um elemento cultural, porque a maioria dos novos funcionários entra nos bancos com a perspectiva de ficar lá provisoriamente, enquanto estuda para outro concurso. Sem falar nos valores neoliberais de colocar a carreira acima da solidariedade, que são dominantes em toda sociedade.

Obviamente, as direções dos sindicatos têm uma influência sobre isso. A maioria esmagadora dos sindicatos é ligada ao PT e ao PCdoB, o que quer dizer que eles vão tentar impedir que as greves cheguem a um ponto em que possam prejudicar o governo e relação dele com os banqueiros. Isso foi em claro nas greves de 2003 e 2004, que foram greves realmente fortes, em que centenas de bancários fizeram piquetes e que tiveram muita adesão.

Mas é um grande erro reduzir tudo à questão da direção, como fazem alguns setores da oposição bancária. A questão é bem mais complexa e envolve algumas mudanças até mesmo na forma de organização do trabalho nas décadas mais recentes.


As transformações do capitalismo e do movimento sindical

O movimento sindical foi a forma principal de organização da classe trabalhadora durante os séculos XIX e XX. Mas, desde a década de 1980, algumas mudanças importantes aconteceram, relacionadas com a nova fase da globalização do capitalismo. E essas mudanças afetam as possibilidades de organização sindical.

Em primeiro lugar, as novas formas de transportes e comunicação criaram um mercado mundial onde existe cada vez menos espaço para políticas econômicas muito diferentes de país a país. Então, políticas de privatização e austeridade têm sido adotadas por quase todos os países, e os que tentam não adotá-las sofrem pressão econômica e boicotes, e precisam contar com altos níveis de mobilização popular para resistir, o que nem sempre pode ser conseguido. Um exemplo é o caso da Venezuela.

Isso afeta diretamente os sindicatos, porque as grande maioria das lutas sempre foram dentro dos limites do Estados nacionais, num período em que eles poderiam fazer concessões sem serem diretamente desafiados por acordos internacionais ou pelo mercado mundial. Muitas vezes, grandes empresas têm simplesmente transferido setores inteiros para países onde os salários são mais baixos, o que é chamado de outsourcing.  

Esse enfraquecimento dos sindicatos facilitou a terceirização, os contratos temporários e outras formas de precarização do trabalho. Esses setores, por não terem nenhuma estabilidade, raramente conseguem se organizar.

Isso é evidente no sindicalismo brasileiro. Os setores que conseguem se mobilizar são quase sempre funcionários públicos ou de estatais, onde as empresas não podem apelar diretamente para o mercado. E mesmo assim, por exemplo, 80% ou mais dos trabalhadores no setor petroleiro são terceirizados.

Assim, é de se esperar que a sindicalização tenha caído em praticamente todos os países do mundo desde a década de 1980, as únicas exceções importantes sendo a China e o Egito. No Brasil atualmente a taxa de trabalhadores sindicalizados está em cerca de 17%, considerando a proporção da população no mercado de trabalho em relação ao total da população os sindicalizados são somente 9% da população brasileira.

Apesar da redução da quantidade de trabalhadores sindicalizados não podemos negar ainda a importância e relevância dos sindicatos no cenário político do país principalmente por causa da contribuição sindical compulsória que garante recursos para os sindicatos seja a direção combativa, frouxa ou cooptada.  Muitas vezes a lógica do uso das máquinas institucionais nas eleições fazem reproduzir a crise de representatividade também nos sindicatos como em tantas outras agremiações não só no campo partidário.

É importante então se combater a disputa eleitoral desigual também nessas e em outras instituições para contribuir com a legitimidade e representatividade dos anseios da base pela via da organização institucional e não somente na espontânea a qual as jornadas de junho demonstraram que também tem graves problemas.

Talvez mais essencial ainda seja se pensar não só na crise sindicalista, mas também em todos os movimentos de esquerda que parecem demasiadamente egoístas e defendendo somente suas próprias bandeiras e não se importando com a de seus irmãos trabalhadores sem algum toma-lá-dá-cá explícito. Por mais que a retórica seja de união e defesa de interesses mútuos as diferenças de leitura de contexto ou de estratégia de luta estão dividindo excessivamente a esquerda de forma que ela mesmo se imploda quando ela não se divide simplesmente porque esta ou aquela bandeira não é de seu interesse direto!


Qual o futuro?

Por causa dessas novas condições, se fala muito em crise do sindicalismo. Inclusive alguns marxistas italianos falam em fim do movimento operário, o que significa que o movimento sindical e os seus braços políticos, os partidos socialdemocratas e comunistas, deixaram de ser as formas de organização principais da classe trabalhadora no mundo inteiro.

Isso não pode ser interpretado como se os sindicatos simplesmente fossem desaparecer. Na verdade, os sindicatos ainda continuam aí, e algumas vezes fazendo lutas importantes. Mas parece que não tem como contestar que existe uma tendência mundial a longo prazo de que os sindicatos vão ser uma parte cada vez menor das várias formas de organização da classe trabalhadora, e que a maior parte das suas lutas vão ser cada vez mais defensivas.

Se coloca a necessidade de implementação mais veemente do internacionalismo transformando sindicatos em organizações multinacionais tais quais as empresas daqueles que lhes exploram. Outra necessidade é lutar por formas de autogestão nas empresas como cooperativas que também podem ajudar mas infelizmente ainda não deslancharam provavelmente pela dificuldade de acesso a crédito, boa gestão e organizar grandes massas de trabalhadores.

É essencial ainda que se priorize a defesa dos perseguidos e ameaçados por liderarem as lutas dos trabalhadores assim como atacar incisivamente os vendidos e cooptados que trocam de lado em detrimento da classe para favorecerem a si próprios.

Para nós, da FIST, isso traz uma grande responsabilidade: são movimentos populares urbanos, como nós mesmos, o MPL, e várias outras formas de organização, que estão tendo mais impacto nas lutas sociais. O grande desafio é como massificar esses novos movimentos, e se eles podem chegar à escala que os sindicatos tiveram no auge. O novo século só está começando, mas nós temos que ver o que nós estamos fazendo que pode ser o caminho para o futuro!

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