André de Paula
Tive a honra de, assessorado
por Antônio Louro, ter conseguido a anistia política do ex-padre e guerrilheiro
Alípio de Freitas, morto recentemente, em 13 de junho, em Lisboa aos oitenta e
oito anos. Além disso, conseguimos sua reintegração à Universidade do Maranhão
e o resgate de sua cidadania brasileira.
Alípio participou do Congresso
Mundial da Paz em Moscou e conviveu com o poeta chileno Pablo Neruda e com a
revolucionária espanhola La Pasionaria.
O jornal O Correio da Manhã
apresenta-o como um dos fundadores das Ligas Camponesas ao lado de Francisco
Julião.
Depois de morar no México e em
Cuba, entrou no Brasil clandestinamente. Na esquerda armada organizou atentados
que visavam a derrubada do Regime Militar e acabou preso por dez anos.
Alípio de Freitas teria sido o
grande articulador do atentado a bomba do Aeroporto de Guararapes em Recife por
meio do qual se pretendia matar o Ministro da Guerra, Costa e Silva, depois
Presdente da República. Mas, o General não estava no aeroporto.
O jornalista Élio Gaspari
relara que, neste atentado, morreram um Almirante e um jornalista, sendo que o
guarda que encontrou a bomba teve a perna amputada e o Secretário de Segurança
de Pernambuco perdeu quatro dedos da mão esquerda. Além disso, treze pessoas
ficaram feridas.
Numa entrevista, ele disse:
“Morreu gente, nós lamentamos. Mas era uma guerra, tinha que haver vítimas”.
Ao ser preso, sofreu torturas
inimagináveis, nada tendo entregue. Liberado em 1979, mudou-se para Moçambique,
em 1981. Mais tarde, na década de 1980, voltou para Portugal e integrou-se,
como jornalista, à equipe de profissionais da RTP. Aposentou-se em 1994, aos 65
anos. Em seguida, em 2010, integrou-se ao Conselho Editorial do jornal “A Nova
Democracia”.
No livro “Resistir É Preciso —
Memória do Tempo da Morte Civil no Brasil” (Record, 279 páginas), Alípio de
Freitas menciona o goiano Manuel Porfírio (torturadíssimo no DOI-Codi), filho
de José Porfírio. Eles ficaram presos juntos. Na prisão, insistiram com o
ex-padre se ele sabia do paradeiro de José Porfírio de Souza e de Aldo Arantes.
Trecho do livro: “A certa
altura do interrogatório, quando eu mais rolava pelo chão do que ficava de pé,
o capitão Correia Lima parou de dar-me choques elétricos e mandou que me
levantasse, encostado a uma parede da sala. Disse que me retirassem um dos
eletrodos de um dos pés; em seguida, ordenou-me que o ligasse no pênis.
Recusei-me. O capitão Correia Lima gritou que eu tinha de ligá-lo. Calei-me, a
expectativa do que iria acontecer. Então um soldado abaixou-se à minha frente e
preparou-se para cumprir a ordem. Quando se aproximou, já com o eletrodo na
mão, e se abaixava para ligá-lo, somei as poucas forças que tinha a todo o meu
ódio e desferi-lhe um pontapé debaixo do queixo que o projetou de costas para o
meio da sala. Um grito medonho partiu de todas aqueles gargantas enfurecidas:
‘Ao pau-de-arara, ao pau-de-arara com este filho da puta!”
Alípio de Freitas deixa uma
filha, a cantora brasileira Luanda Cozetti.
Alípio de Freitas foi
homenageado pelo cantor português Zeca Afonso com a música “Alípio de Freitas”,
do disco “Com as minhas tamanquinhas”. Letra da música:
“Baía de Guanabara/Santa Cruz
na fortaleza/Está preso Alípio de Freitas/Homem de grande firmeza/Em maio de
mil setenta/Numa casa clandestina/Com companheira e a filha/Caiu nas garras da
CIA”.
Talvez, se tivesse se ordenado
padre após o Concílio Vaticano II ou mesmo no pontificado de Francisco, não
tivesse largado a batina, uma vez que nutria amizades com vários expoentes da
Teologia da Libertação.
Alípio foi coerente com sua
opção pelos pobres e pelo socialismo até as últimas consequências, sendo, na
verdade, um herói internacionalista.
André de Paula é advogado da
Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST) e membro da Anistia Internacional.
Contatos:
Correio
eletrônico: fist17@gmail.com
https://www.facebook.com/frenteinternacionalista.fist
http://fistrj.blogspot.com.br
(21)
99606-7119
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