segunda-feira, 5 de novembro de 2018

OPINIÃO - O TERRORISMO ISLÂMICO NO BRASIL


André de Paula


O racismo e o preconceito que invadem impiedosamente a nossa sociedade atingem também, pasmem os senhores, a própria Justiça.
A intolerância hedionda contra o islamismo que se espalha mundialmente, encontra acolhida, infelizmente, em nossos combalidos Tribunais. Todo islâmico se torna, agora, criminoso em potencial. É a mesma coisa que apregoar que todo cidadão estadunidense é criminoso só porque o presidente o é.
Católico e marxista que sou (não vejo contradições significativas, pois o cristianismo cuida do homem todo e o marxismo é ferramenta de transformação da sociedade, de todos os homens). Por conseguinte, não hesitei um segundo em advogar para Kleiton França, acusado pelo Ministério Público Federal de Goiânia e perseguido pela grande imprensa de pertencer ao grupo de aplicativo WhatsApp, “Revolucionários Islâmicos”, cujo objetivo seria, supostamente, difundir e defender ideias extremistas, inclusive para planejamento de possíveis atentados em território brasileiro.
Kleiton é dependente químico de álcool e drogas, faz tratamento para se livrar da doença que o aflige e está, por isso, com seu senso crítico reduzido, não professando, de maneira alguma, a religião de Maomé.
O grupo citado, na verdade é uma espécie de jogo como, por exemplo, “Role-playing game-RPG” , “Dungeons & Dragons” e “Vampire: The Masquerade”, onde jogadores interpretam personagens vilânicos.
Quem num acesso de raiva, da boca para fora, já não falou: Tem que jogar uma bomba no Congresso Nacional, pois esta casa é absolutamente corrompida”. Isto significa que vai concretizar o ato ou apologia ao terrorismo?
Sob o efeito de drogas, entrou o pobre coitado no grupo apenas para se divertir, não tinha seriedade ou tirocínio para participar de qualquer atentado terrorista. Não teve qualquer dolo que seja. Não há o elemento subjetivo do injusto de violar a legislação antiterrorismo ou de expor a vida ou a integridade de qualquer pessoa. Até porque o tal grupo é apenas um jogo. E esta conotação preconceituosa e intolerante reforçada por parte da grande mídia foi inventada pelo governo para justificar as violentíssimas repressões que vem efetuando, agora, realmente, podendo colocar nosso país na rota de guerra dos terroristas uma vez que o presidente Bolsonaro ameça transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Na verdade, trata-se, como afirmam vários grupos islâmicos, de uma medida provocativa ilegal perante o direito internacional e que só desestabiliza a região.
O Brasil que nunca foi palco de ações terroristas de grupos islâmicos, agora poderá se tornar alvo da ira terrorista. Por enquanto, imputar a um simples grupo de WhatsApp, composto apenas por nove pessoas, organização criminosa, sem divisão de tarefas e sem a prática de qualquer fato concreto que indicasse que se praticaria uma ação, sem vantagem de qualquer natureza, sem ligação com células de quaisquer grupos terroristas, sem qualquer ato preparatório, sem posse de nenhuma arma ou material explosivo, na verdade, soa como piada.
Incluí-los na lei antiterrorismo é brincadeira de mau gosto que onera nossa carcomida Justiça e resulta em pesadelo cruel para os nove internautas.
Lamentavelmente, esta lei criada no governo Dilma tem servido para criminalizar os movimentos sociais e justificar o aumento da repressão que criou presos políticos como os 23 das jorna
das de 2013 contra o aumento das passagens, de Rafael Braga, de Jair Baiano, ex-membro da FIST, padre Amaro e agora do indigitado cidadão negro Kleiton, também ex-morador de uma de nossas ocupações, doente químico e réu sem nenhum antecedente criminal.
Bolsonaro, na verdade, envereda por um campo perigoso, pois Israel ocupa Jerusalém oriental desde a guerra de 1967 e, posteriormente, a anexou, ato nunca reconhecido pela comunidade internacional.
Para a comunidade internacional, o status de Cidade Sagrada deve ser negociado por ambas as partes e as embaixadas não devem se estabelecer lá até que um acordo seja alcançado.
Agora, sim, parece que o Brasil pode começar a correr perigo.

André de Paula é membro da Anistia Internacional e advogado da Frente Internacionalista dos Sem Teto –FIST.


Um comentário:

Unknown disse...

Nós somos os advogados que têm uma visão diferenciada! Bom texto