sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O REVOLUCIONÁRIO INTERNACIONALISTA ANTÔNIO LOURO


Por André de Paula

ANTÔNIO LOURO


Engenheiro naval por profissão, na ditadura militar brasileira foi despedido de vários estaleiros em virtude de sua ficha de revolucionário.

Advogado, na prática, sem nunca ter passado por Faculdade de Direito, revolucionou a advocacia brasileira; primeiro, por ter me ensinado e estimulado a exercê-la em benefício dos pobres; depois, por ter criado no instituto da suspeição a “inimizade de classe” que os juízes geralmente têm. Ensinou-me a defender o instituto da posse contra a propriedade abandonada logo que esta fosse tomada pelos posseiros. Residia em apartamento fruto da vitória que tivemos na Justiça da ação de manutenção de posse onde reside sua viúva, Marlene. Por todas essas lutas, entre a Praça da República e a Praça Tiradentes, na Rua Visconde do Rio Branco, existe a Ocupação Antônio Louro, singela homenagem a este gigante fundador da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (Fist), ex-membro da direção da Central dos Movimentos Populares(CMP) e ex-membro da direção do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM).

Foi membro do Comitê Central do Partido Comunista Português (PCP), tendo rompido com o mesmo em virtude de suas posições stalinistas. Quando operário da fábrica de armamentos em Portugal, danificava as bombas enviadas por Salazar a Franco, durante a Guerra Civil Espanhola, fazendo com que saíssem delas propaganda republicana anti-franquista. Foi preso político em Portugal, tendo cumprido solitária no Forte Caxias.

No Brasil, foi igualmente preso, sendo torturado na prisão da Rua da Relação, em virtude de sua luta antirracista contra o imperialismo português na defesa da libertação das colônias portuguesas e, em virtude disso, conquistou sua anistia. Quando de sua prisão aqui no Brasil, veio de Portugal um agente da PIDE(Polícia de Salazar), especialmente para contribuir com suas torturas, tendo ficado provado com isso que a Operação Condor não era uma trama apenas de países sul-americanos. Defendia a tese de que Cabo Anselmo, com quem conviveu na prisão, sempre foi um agente da CIA, uma vez que até o título a ele conferido não condizia com a realidade porque Anselmo nunca foi cabo e sim marinheiro.

Participou efetivamente na campanha “O PETRÓLEO TEM DE SER NOSSO”, tendo ocupado, inclusive, a ANP – Agência Nacional do Petróleo contra os leilões ocorridos nos governos de Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer. Participou, intensamente, da luta pela libertação dos presos políticos no Brasil, tendo feito greve de fome em solidariedade aos revolucionários que sequestraram Abílio Diniz e participou, também, na luta pela libertação dos italianos aqui presos, Pasquale Vallitutti, Achille Lollo, Luciano Pescina e Cesare Battisti, entre outros.

Foi, junto comigo, o primeiro a denunciar por meio dos meios de comunicação a milícia “ Liga da Justiça”, comandada pelo ex-deputado Natalino e pelo ex- vereador Jerominho que venderam o espaço coletivo da ocupação Olga Benário, em Campo Grande, zona oeste do Rio, para a igreja evangélica “Poço de Jacó”, além da exploração do “gatonet”, gás de cozinha e transporte alternativo que faziam.

Enfrentou o governador Carlos Lacerda na ocupação habitacional Vila Palácio, no Catete. Na verdade, foi o precursor do movimento sem-teto no Rio de Janeiro.

Apesar de ateu, creio tratar-se de pessoa profundamente religiosa, uma vez que dedicou a sua vida aos pobres e ninguém é maior do que aquele que dá a vida por seus irmãos. Ao amar os irmãos está amando a Deus, pois somos sua imagem e semelhança.

Salve, Antônio Louro! Herói antirracista, antifascista e anti-miliciano.


André de Paula é advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST) e membro da Anistia Internacional.

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