terça-feira, 15 de setembro de 2015

O que queremos!



            Acesso a educação e saúde de qualidade é uma realidade no Brasil, mas uma realidade para poucos, para a vasta maioria é apenas um sonho. Não só isso, acesso a transporte de qualidade, saneamento básico, asfaltamento, coleta de lixo e até dignidade ainda é algo que faz falta a muita gente e mesmo os que têm algum acesso a essas coisas tem que pagar cada vez mais por isso.
            O país que os políticos e as elites vivem não é o mesmo país que o resto da população vive o que se torna mais evidente na proposta de solução do problema orçamentário. Não há uma só linha sobre criação de emprego e melhora salarial apesar do desemprego estar nos níveis mais altos dos últimos anos e o salário médio ter caído 11,5% em 2015 em termos reais. Não há uma linha que promova a justiça social ou uma linha sobre redistribuição de renda e riqueza.
            A proposta de cortes coloca 48% do peso nas costas do funcionalismo público, 33% em moradia, 14,5% na saúde e só 4% nos subsídios agrícolas. Para aumentar a arrecadação só 20% recairá sobre redução de subsídios a empresas e aumentos de impostos para os mais ricos.
            Como apoiar esse ajuste num país aonde a saúde é considerada o maior problema da população mas enquanto saúde e educação só recebem juntos 11% dos recursos federais? Num país aonde o custo do subsídio para o orçamento público seria de 6% só em 2016 enquanto o valor total dos recursos disponibilizados é cerca de 30% do orçamento federal? Num país aonde os programas de transferência de renda como o Bolsa-Família só constituem 3% do orçamento federal e os investimentos somente recebem 6%?
            Para o atual governo não basta manter os latifúndios modernos sem fazer a reforma agrária, ele ainda financia os mesmos grandes agricultores que cometem crimes contra a humanidade massacrando índios brasileiros que têm suas terras invadidas. Para o atual governo não basta manter a relação injusta e desigual entre trabalhador e patrão, precisa financiar fortemente os grandes empresários que compram políticos com o financiamento das suas campanhas. Para o atual governo não basta dedicar parcos recursos para os mais necessitados via programas sociais, ele ainda precisa tentar convencer que faz muita coisa como se o povo não merecesse e como se não gastasse 25 vezes mais com subsídios para ricos do que com o Bolsa-Família. E pior, na hora de propor mudanças quer piorar o que já é péssimo.
            A farsa daqueles que criticam o governo mas o apoiam pedindo para que ele vá à esquerda fica ainda escancarada com esse ajuste que cobra dos pobres pela mordomia dos ricos. Quantos não louvaram o presidente do MTST que criticou publicamente a presidenta Dilma mas não deixou de ir às ruas para apoiar seu governo? Pois que fique escancarado para eles os R$ 8,6 bilhões de reais cortados do programa Minha Casa, Minha Vida perfazendo um terço dos cortes totais. Valeu a pena fazer a defesa crítica da Dilma? O que esse governo quer é submissão, não união e nós militantes não participamos da luta por uma agenda social para nos curvarmos àqueles que se unem a direita para beneficiar ricos e explorar os pobres.
            Há ainda aqueles que temem a volta do regime militar ou a implantação de um regime plenamente fascista, infelizmente já não estamos distantes desta realidade. Não há necessidade de mudança de regime para que as forças retrógradas, reacionárias e elitistas se sintam contempladas de tal forma que no Brasil aqueles que preferem regimes autoritários estão entre 12% e 20% da população, proporções altas, mas decrescentes e apontam uma clara minoria apesar dos problemas da nossa democracia débil.
Já aqueles que acreditam que um governo tucano seria ainda pior não percebem que a diferença dos programas do PT e do PSDB é tão pequena que não vale a desmoralização da esquerda, não vale destruir nosso futuro promovendo a reprodução do passado, não vale apoiar um partido desonesto e um programa de direita, não vale dispender esforços para apoiar um projeto podre e carcomido enquanto poderíamos estar construindo uma nova esquerda, uma esquerda com o povo, genuína, coerente, honesta e que defenda os interesses da população.
                Estamos de facto fortalecendo a direita agindo exatamente como ela quer dando combustível para nos desmoralizarmos, para nos afastar do povo e desperdiçarmos nossos esforços fazendo o que a direita quer enquanto ela se fortalece até tomar o poder por completo. Não se enganem, o PT já mostrou a que veio e que não tem salvação, enquanto ele promove um projeto de direita teoricamente moderado a direita radical se fortalece até conseguir o que quer. Enquanto uma parte da esquerda tem medo ou preguiça de reconstruir a esquerda porque por exemplo acha que a direita pode passar um trator no meio da obra a casa está desmoronando e eles preparam a remoção do mesmo jeito.

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