quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Porque o Petróleo tem que ser nosso!

               
                A recente onda dos entreguistas de recursos brasileiros tenta justificar a privatização da extração do petróleo seja pela falta de recursos para os investimentos colossais necessários para a exploração do pré-sal seja porque empresas privadas supostamente seriam mais eficientes na extração do petróleo. Duas mentiras descaradas que serão desmascaradas neste texto.

            Em relação aos recursos precisamos primeiro lembrar que diferentes fontes colocam o valor mínimo para a viabilização do pré-sal em 45 dólares por barril já considerando o custo de endividamento para a extração. Porém apesar do barril de petróleo estar atualmente neste patamar estimativas de mercado e do banco mundial colocam os preços do petróleo subindo. Logo, não existe necessidade de privatização por falta de recursos até porque empresas privadas precisariam de taxas de lucro maiores pois tem custos de captação de recursos muito mais altas que o governo brasileiro ou a Petrobrás.

            Em relação ao suposto ganho de eficiência com a privatização podemos rapidamente comparar o custo de extração da Petrobrás de cerca de 9 dólares por barril com a média mundial de 15 dólares por barril para rever nossos conceitos. Assim encontramos que a performance da Petrobrás é melhor do que a média mundial se equiparando aos custos do Oriente Médio que são os menores do mundo, local do planeta aonde a extração de petróleo é mais fácil. Quando comparamos a taxa de retorno da Petrobrás com a de grandes empresas petrolíferas internacionais como Exxon, BP, Shell e Chevron encontramos que as estrangeiras têm pífias taxas de retorno de 0,1% a 0,2% na média dos últimos 5 anos o que não as coloca mais rentáveis que a Petrobrás apesar dos últimos anos terríveis de gestão petista na empresa. Então no que o Brasil ganharia privatizando o petróleo? Não é o Brasil que precisa das empresas petroleiras internacionais são elas que precisam do Brasil! Se nos anos 50 elas controlavam 85% das reservas de petróleo do mundo em 2013 controlavam tão somente 10%. Assim fica claro a quem servem aqueles que desejam a privatização.

            Quanto a análise de preços em si, uma estimativa feita por Andrew Butter, analista com 20 anos de experiência nesse mercado, crê que  o preço do barril de petróleo deve ficar entre 50 e 70 dólares até 2020 e depois subir rapidamente para cerca de 150 dólares até 2022 graças a níveis baixos de investimentos no período de vacas magras. Assim, investir nesse momento de preços baixos é imperativo para que se possa garantir o aproveitamento dos preços mais altos conforme a demanda cresce mais rápido que a oferta. A lógica dos investimentos não pode olhar somente para o cenário atual, mas também para o cenário futuro. A análise do banco mundial crê no aumento de cerca de 5 dólares em média no preço do barril de petróleo nos próximos 10 anos o que também confirma a viabilidade do uso estatal de captação de recursos para investimento na Petrobrás. Não encontramos nenhuma análise de preços futuros que justifique não investir na extração de petróleo via Petrobrás.

            Para entender melhor a dinâmica da produção e precificação do petróleo é importante olhar também para informações sobre o xisto betuminoso. O alarde feito em relação a tecnologia de fratura hidráulica para extração desse produto se fazia justificável quando o preço do barril de petróleo estava na casa dos 100 dólares não obstante a questão do dano ecológico que sempre é difícil de se precificar. É muito difícil se fazer estimativas do preço mínimo para a viabilidade dessa tecnologia, mas muitas delas colocam em 60 dólares por barril o preço mínimo para a sustentabilidade das empresas que usam essa tecnologia. Existe a possibilidade concreta da existência de uma bolha nesse mercado alimentada por taxas de juros baixíssimas nos EUA que pode estourar a qualquer momento com os níveis atuais do preço do barril de petróleo. Precisamos atentar ainda a resposta de países da OPEP, principalmente da Arábia Saudita, que decidiu aumentar a produção fortemente para baixar os preços internacionais e impedir o avanço do xisto betuminoso. Na teoria econômica é difícil se justificar essa estratégia mas de qualquer forma o resultado há de ser a sobrevivência da Petrobrás e do projeto do pré-sal sem grandes problemas e independente dos resultados da interação entre Arábia Saudita e fratura hidráulica americana a tendência do contexto da Petrobrás é de avanço continuado.

            Isto não quer dizer que devamos nos conformar com a situação atual. Empresas privadas são responsáveis por cerca de 7,5% da produção de petróleo atualmente e 53% da Petrobrás encontra-se em poder de investidores privados, assim 56,5% da produção de petróleo atualmente não beneficiam o estado brasileiro diretamente. Se considerarmos uma taxação de 25% sobre rendimentos então 42% dos lucros do petróleo são destinados a investidores privados já descontados os impostos. Quanto isso significa em valores monetários? Se hoje imaginarmos que o rendimento da Petrobrás apenas cobre seus custos de captação e tomando que os preços de petróleo subam em média 5 dólares por ano a produção de 3 milhões de barris de petróleo por dia significariam 15 milhões de dólares por dia a partir do ano que vem e um aumento de 15 milhões por ano, isso quer dizer que daqui a dois anos os lucros seriam 30 milhões de dólares por dia, daqui a três anos seriam de 45 milhões de dólares por dia, daqui  a 4 anos 60 e por ai vai. Isso sem contar os futuros aumentos de produção, redução de custos com a melhora da tecnologia de perfuração em aguas profundas mas também sem trazer a valor presente, mesmo assim podemos ter uma ideia do valor mínimo. Por ano isso significa um aumento de no mínimo 5,5 bilhões de dólares no lucro sendo que todo ano os investidores privados receberão 2,3 bilhões de dólares a mais por ano, ou seja 4,6 bilhões daqui a dois anos, 6,9 bilhões daqui a 3 anos e por ai vai.

            Não se sabe ao certo a quantidade de petróleo por baixo da camada de pré-sal mas se assumirmos que as reservas são de 30 bilhões de barris, no ritmo atual de produção o Brasil levaria 27 anos para esgotar a produção de petróleo do pré-sal. Assumindo nossa premissa de aumento de 5 dólares por ano no preço do petróleo e usando uma taxa de desconto de 10% ao ano chegaríamos a cerca de 450 bilhões de dólares de lucro líquido e uma receita total de 2,5 trilhões de dólares a 85 dólares o barril em média. O Brasil aceitar que centenas de bilhões de dólares sejam destinados a investidores privados quando há tantas necessidades gritantes no nosso país é algo absurdo e sem sentido. Já destinamos muitos recursos para subsidiar os ricos, já convivemos com impostos que recaem mais sobre os pobres do que os ricos, já deixamos que vastas fortunas sigam sem serem taxadas apropriadamente, não podemos aceitar nenhuma dessas injustiças quanto mais somar mais esta injustiça a lista. Precisamos lutar pelo que é nosso. Não ao leilão do Petróleo! Queremos uma Petrobrás 100% estatal e não aceitaremos nada menos que isso!


Magno Mendes Severino da Silva
Economista militante da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST).

Referências:
a)      Custos de produção e preço mínimo de viabilização de extração:
        b)   Informações da Petrobrás, de outras empresas petrolíferas estrangeiras e do mercado nacional de petróleo

c) Informações sobre o mercado internacional de petróleo e do xisto betuminoso

https://www.iea.org/oilmarketreport/omrpublic/

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