Ato Primeiro de Maio Independente e Classista no Museu do Amanhã
André de Paula
O
incêndio do edifício no centro de São Paulo demonstra, pelo menos, crime de
omissão nas esferas municipal, estadual e federal em garantir moradia digna.
Além disso, é, no mínimo, leviano e cruel responsabilizar os ocupantes para
tentar encobrir sua própria responsabilidade.
Enquanto
a população de baixa renda é penalizada, os latifúndios urbanos concentram
dívidas milionárias e descumprem reiteradamente o ordenamento jurídico, somente
prestigiando a especulação imobiliária uma vez que a propriedade abandonada e
sem exercício da função social não pode merecer proteção jurídica.
No
Rio de Janeiro como em São Paulo, o Estado, o Município e a União não têm
qualquer plano habitacional e não promovem a reforma urbana. Com base em
estudos da Fundação João Pinheiro, em 2014, o déficit habitacional brasileiro
era de 6.068 milhões de domicílios, enquanto o número de domicílios vagos era
de 7.241 milhões. Para agravar, o Governo Federal reduziu mais ainda o insuficiente
programa Minha Casa Minha Vida cujas construções, em regra, são feitas em locais
longínquos e sem estrutura. O Poder Judiciário, gozando de imoral auxílio
moradia, se posiciona, via de regra, pela defesa da propriedade abandonada
ignorando o direito de posse.
Os
que fazem acusações contra os movimentos sociais que lutam por moradia são
covardes, pois omitem os principais responsáveis por esta crise: o mercado e a
falta de reforma urbana, acobertados, via de regra, pelo Judiciário e o aparelho
repressor do Estado, a serviço do capital.
Discordo,
veementemente, das afirmações da grande mídia na cobertura sobre o desabamento
do prédio ocupado por sem tetos ocorrido no último 1º de maio.
A
maior parte das matérias jornalísticas e das declarações dos políticos ouvidos
foi no sentido de culpar movimentos por moradia e propor a sua criminalização,
enquanto nenhuma palavra é dada em relação à grave e explosiva situação em que
o país se encontra nas questões sociais - urbanas ou fundiárias.
Não
se pode esperar forma diversa de interpretação, ou manipulação, da realidade
por parte de estruturas que servem de porta vozes das classes dominantes, porém
o conjunto da população deveria conhecer os fatos e o dia a dia dos que lutam
pelo direito constitucional à habitação.
Entendemos
que um futuro digno só poderá ser viável no atual cenário político com a
radicalização e unificação das lutas e, consequentemente, com a contraposição
da narrativa hegemônica que representa os interesses do grande capital e só
aprofunda o fosso social que temos hoje no país com consequências a cada dia
mais funestas e perigosas.
André de Paula é advogado da Frente Internacionalista do Sem-Teto(FIST) e membro da Anistia Internacional.
Contatos:
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