André
de Paula
São
Domingos e sua Ordem
Comemoramos
a 8 de agosto a Festa do padre espanhol Domingos de Gusmão que
vendeu todos os seus pergaminhos para matar a fome dos pobres, disse
ele: “ - Não posso escrever em peles mortas enquanto seres humanos
estão famintos.
Fundou
a Ordem dos Pregadores em 1216 na França, abrigando frades,
religiosos, freiras, monjas contemplativas e leigos, sendo a
mendicância um imperativo para combater o fausto da Igreja.
O
carisma da Ordem é o estudo, oração, pregação e opção pelos
pobres.
Os
primeiros procediam das Universidades de Bolonha na Itália, de
Oxford na Inglaterra e de Sorbone na França.
Os
dominicanos fundaram as duas primeiras Universidades da América
Latina: a de Santo Domingo na República Dominicana, em 1538, e a de
São Marcos no Peru, em 1551.
No
Brasil, se dedicaram aos indígenas, ao movimento estudantil, aos
movimentos sociais e à defesa dos direitos humanos.
Destacam-se,
entre os mais conhecidos dominicanos:
-
Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, autor da Suma Teológica, que
disse ser “a terra de quem nela vive e trabalha” e
que “quando não houver outra forma de remover um
governante tirano, recorrer às armas é válido”;
-Santa
Catarina de Sena que apesar de analfabeta, também é doutora da
Igreja, conseguindo unificá-la, àquela época dividida em dois
papados;
-Bartolomeu
de Las Casas que denunciou a opressão a que eram submetidos os
indígenas pela colonização hispânica, tendo elaborado a Primeira
Carta de Direitos Humanos da América Latina, tendo sofrido
perseguição por isso;
-Campanella
que pregava a abolição da propriedade privada, sofrendo prisão por
longos anos;
-Francisco
de Vitória que lançou as bases do Direito Internacional;
-Savonarolla
que vociferava contra a degradação moral e os privilégios dos
poderosos, sendo morto pela inquisição, mesmo fim que teve Giordano
Bruno. Aliás, a Inquisição mostra o lado negativo da Ordem, pois
esta foi fomentada pelos Dominicanos, comandada pela figura sinistra
de Torquemada, quando São Domingos já tinha morrido;
-Martinho
de Porres, peruano negro, símbolo da humildade e da luta contra o
racismo e escravidão, conseguiu entrar na Ordem, uma vez que nos
anos de mil e seiscentos os índios e os negros não podiam ingressar
nela por quatro gerações. Dotado do dom de curas, atraía multidões
para o Convento de Lima. Tendo sido proibido de realizar essas curas
por seu superior, continuou praticando a caridade de forma escondida.
Quando descoberto foi submetido à dura penitência que cumpriu
disciplinadamente e, após, colocou para o superior que pensava ser a
caridade superior à obediência. Por ocasião da crise financeira do
convento, se ofereceu para ser vendido como escravo o que não foi,
felizmente, aceito pela Ordem;
-Dominique
Pire, lutador na resistência belga contra o nazismo, ajudou a fuga
de várias pessoas e trabalhou, depois, com os camponeses, tendo ,
por seu trabalho, recebido o prêmio Nobel da Paz em 1958.
-
Matheus Rocha, no Brasil, fez da Ação Católica um movimento
progressista que nos deu Betinho, os frades Betto , Ivo, Fernando,
Osvaldo, Tito e outros que enfrentaram a ditadura militar empresarial
de 1964, recebendo atrozes torturas. Frei Tito, inclusive, foi levado
ao suicídio, depois de ficar louco, devido às terríveis torturas
praticadas pelo psicopata delegado Fleury.
-Tomaz
Beduíno, Bispo que se dedicou ao povo indígena tendo presidido o
CIMI -Conselho Indigenista Missionário e a CPT- Comissão Pastoral
da Terra.
A
Comissão Dominicana de Justiça e Paz, bastante atuante, tornou-se
uma expressão fundamental das prioridades definidas pela Ordem,
congregando frades, religiosas e leigos voltados à busca de uma
terra sem males. No Brasil, além de frades, monjas contemplativas e
religiosas dedicadas à educação, existe o movimento juvenil
dominicano e leigos identificados com o carisma da Ordem, entre os
quais me incluo, humildemente.
Três
compromissos definem o carisma dominicano: lutar por justiça e pela
partilha dos bens da terra e dos frutos do trabalho humano
(pobreza), fidelidade ao carisma de São Domingos, Pregador do
Evangelho(obediência ao coletivo), gratuidade na entrega amorosa e
solidária da vida a todos e, em especial, aos que carecem de
condição digna de vida(castidade).
André
de Paula é advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST)
e membro da Anistia Internacional.
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