segunda-feira, 5 de agosto de 2019

OPINIÃO - SÃO DOMINGOS E SUA ORDEM




André de Paula

 
São Domingos e sua Ordem


Comemoramos a 8 de agosto a Festa do padre espanhol Domingos de Gusmão que vendeu todos os seus pergaminhos para matar a fome dos pobres, disse ele: “ - Não posso escrever em peles mortas enquanto seres humanos estão famintos.

Fundou a Ordem dos Pregadores em 1216 na França, abrigando frades, religiosos, freiras, monjas contemplativas e leigos, sendo a mendicância um imperativo para combater o fausto da Igreja.

O carisma da Ordem é o estudo, oração, pregação e opção pelos pobres.

Os primeiros procediam das Universidades de Bolonha na Itália, de Oxford na Inglaterra e de Sorbone na França.

Os dominicanos fundaram as duas primeiras Universidades da América Latina: a de Santo Domingo na República Dominicana, em 1538, e a de São Marcos no Peru, em 1551.

No Brasil, se dedicaram aos indígenas, ao movimento estudantil, aos movimentos sociais e à defesa dos direitos humanos.

Destacam-se, entre os mais conhecidos dominicanos:

- Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, autor da Suma Teológica, que disse ser “a terra de quem nela vive e trabalha” e que “quando não houver outra forma de remover um governante tirano, recorrer às armas é válido”;

-Santa Catarina de Sena que apesar de analfabeta, também é doutora da Igreja, conseguindo unificá-la, àquela época dividida em dois papados;

-Bartolomeu de Las Casas que denunciou a opressão a que eram submetidos os indígenas pela colonização hispânica, tendo elaborado a Primeira Carta de Direitos Humanos da América Latina, tendo sofrido perseguição por isso;

-Campanella que pregava a abolição da propriedade privada, sofrendo prisão por longos anos;

-Francisco de Vitória que lançou as bases do Direito Internacional;

-Savonarolla que vociferava contra a degradação moral e os privilégios dos poderosos, sendo morto pela inquisição, mesmo fim que teve Giordano Bruno. Aliás, a Inquisição mostra o lado negativo da Ordem, pois esta foi fomentada pelos Dominicanos, comandada pela figura sinistra de Torquemada, quando São Domingos já tinha morrido;

-Martinho de Porres, peruano negro, símbolo da humildade e da luta contra o racismo e escravidão, conseguiu entrar na Ordem, uma vez que nos anos de mil e seiscentos os índios e os negros não podiam ingressar nela por quatro gerações. Dotado do dom de curas, atraía multidões para o Convento de Lima. Tendo sido proibido de realizar essas curas por seu superior, continuou praticando a caridade de forma escondida. Quando descoberto foi submetido à dura penitência que cumpriu disciplinadamente e, após, colocou para o superior que pensava ser a caridade superior à obediência. Por ocasião da crise financeira do convento, se ofereceu para ser vendido como escravo o que não foi, felizmente, aceito pela Ordem;

-Dominique Pire, lutador na resistência belga contra o nazismo, ajudou a fuga de várias pessoas e trabalhou, depois, com os camponeses, tendo , por seu trabalho, recebido o prêmio Nobel da Paz em 1958.
- Matheus Rocha, no Brasil, fez da Ação Católica um movimento progressista que nos deu Betinho, os frades Betto , Ivo, Fernando, Osvaldo, Tito e outros que enfrentaram a ditadura militar empresarial de 1964, recebendo atrozes torturas. Frei Tito, inclusive, foi levado ao suicídio, depois de ficar louco, devido às terríveis torturas praticadas pelo psicopata delegado Fleury.

-Tomaz Beduíno, Bispo que se dedicou ao povo indígena tendo presidido o CIMI -Conselho Indigenista Missionário e a CPT- Comissão Pastoral da Terra.

A Comissão Dominicana de Justiça e Paz, bastante atuante, tornou-se uma expressão fundamental das prioridades definidas pela Ordem, congregando frades, religiosas e leigos voltados à busca de uma terra sem males. No Brasil, além de frades, monjas contemplativas e religiosas dedicadas à educação, existe o movimento juvenil dominicano e leigos identificados com o carisma da Ordem, entre os quais me incluo, humildemente.

Três compromissos definem o carisma dominicano: lutar por justiça e pela partilha dos bens da terra e dos frutos  do trabalho humano (pobreza), fidelidade ao carisma de São Domingos, Pregador do Evangelho(obediência ao coletivo), gratuidade na entrega amorosa e solidária da vida a todos e, em especial, aos que carecem de condição digna de vida(castidade).


André de Paula é advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST) e membro da Anistia Internacional.


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